Vilhena
Nota prévia – Faz hoje duas semanas que ocorreu a chacina de cartoonistas do Charlie Hebdo. Momento adequado para lembrar livros interditos pela Censura.
O “Expresso” anunciou a disponibilização, aqui, de um inventário dos livros que a Velha Censura proibiu. Fê-lo José Brandão e a lista que estabeleceu vai em 900 livros. Já fui ver e li imensos antes do 25 de Abril, dos Harold Robbins aos chatíssimos Simonov e Cholokov, passando pelo Malraux (ainda tenho essa “Condição Humana”), o padre Jean Cardonell (este não está alcance nem do mais pintado dos intelectuais, ah, ah, ah), Henry Miller e Harper Lee. Até “A Nossa Vida Sexual” de Fritz Kahn me passou limpinho pelas mãos. Na verdade, o pai de um dos meus amigos de bairro era inspector da Pide e trazia os livros proibidos, assim providenciando, por ínvios e perversos caminhos, à educação dos infantes.
Olhando para as capas que o “Expresso” reproduzia, descubro que li, nesses tempos de Ditadura, em Angola, o Jubiabá e os Capitães de Areia, de Jorge Amado, as Mãos Sujas, de Sartre e, o que diz alguma coisa sobre a minha idiossincrasia, quase todos os livros do mais proibido dos autores, o José Vilhena, até a minha mãe os apanhar e eu ter mostrado vergonha sonsa e adolescente arrependimento.
Nota final – Artigo publicado aqui por Manuel S. Fonseca.
CAFÉ DA MANHÃ
Van Gogh – “Wood Gatherers in the Snow”
Neva à fartazana em todos os estados norte-americanos. Nem o Havai escapou. Atingido metro e meio de altura do nevão, mais um metro é esperado hoje. Culpam a passagem do vento frio sobre as águas quentes do lago Erie que gerou «nuvem de neve» jamais vista num outono. “Efeito Lago” chamam-lhe. O sucedido é fácil de explicar: o lago transfere calor e vapor de água para a massa de ar fria que congela o vapor. Chegando o inverno a meio, o Ernie congela e desliga a máquina de neve que, por ora, aflige populações.
Não desminto o meu gosto por neve, pelos pingentes escultóricos feitos de gelo que dos muros e telhados pendem. Não desminto a fanfarra que a neve despoleta na minha imaginação. Não desminto o fascínio por livros e filmes, mesmo os mais lamechas, que me teletransportem para cenários imaculados pela brancura que os cobre enquanto trinco maçãs camoesas. Não desminto o mistério sedutor que me rende quando nevão dá sinais – atmosfera branca, translúcida, invulgarmente luminosa cobrindo o longe e o perto, até dezena de metros.
Confirmo ter-me entregue ao poeta Ka inventado pelo ganhador do Nobel da Literatura em 2006, Orhan Pamuk. Confirmo, entre outras veniais rendições da carne e do espírito, a entrega absoluta ao “Branca de Neve e os 700 Anões” escrito pelo irreverente José Vilhena, às histórias de amor e aventuras com filmes de James Bond pelo meio desvendadas no livro “Quando a Neve Cai”, à “Rainha da Neve” de Hans Christian Andersen - fulano extremamente suspeito por ter segredado ao diário a sua recusa em experimentar relações sexuais -, que os irmãos Grimm apimentaram - a rainha má é forçada a dançar até a morte usando sapatos de pedra, quentes como brasas. Bem feito!
Gostei do filme da Disney por ter omitido perversidades canibalescas: no conto original, a rainha pede o fígado e os pulmões da Branca de Neve para servirem de pitéus na «janta». Achei um tédio o filme “Branca de Neve e o Caçador” – nem avançava nem saía de cima. Ri a bom rir com a Julia Roberts em "Espelho, Espelho Meu". Concordei (…)
Nota – Texto completo e ainda quente aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros