Autores que não foi possível identificar
Onda meditabunda. Quando o Presidente alerta para repartição de sacrifícios por todas as camadas sociais, é conveniente prestar atenção porque inusitado o apelo da convencionada direita poderosa. No substrato do discurso, consta pavor das revoltas porque, via cortes nos miseráveis rendimentos, tragicamente atingidos os mexilhões do costume. Que estes incendeiem a amorfia usual. Que os remendos na bancarrota sublevem bivalves/pessoas, até agora pacificamente alojadas em rochas banhadas por marés tranquilas que, de supetão, cresceram para violentas.
Nos alicerces dos temores, considero sensato quem não julga despiciendo prezar a consciência do ser - menos que o desejado pelo atávico «deixa-andar» de mais de meio século para cá. Todavia, convém manter presente que o âmago das pessoas aspira a momentos felizes essencialmente vividos entre afectos no colo das famílias. Quando a penúria desespera pai e mãe, os filhos por acréscimo, quando impossíveis alienações pontuais como no tempo do ‘toma lá cartão, dá-nos férias na República Dominicana, a dívida será tratada depois’, quando o dia-a-dia é medíocre e o amor que uniu o casal é memória vaga, o presente feito de desilusão entope com ruído a melodia dos afectos e torna penoso o viver. A semente da revolta tem por motivo próximo a instabilidade económica; por razão profunda o bicho da solidão afectiva experimentada na família.
Mesmo quando, semanalmente, as revistas cor-de-rosa iludiam mágoas, o Euromilhões fornecia esperança precária, as férias/dívidas sublinhavam vinte e quatro sobre vinte e quatro horas a degradação amorosa, os 'bens do parecer' comprados a prestações disfarçavam a porca miséria emocional. Agora, nem isso. Sem adoptar a condição de Velho do Restelo, julgo provável a revolta dos indivíduos que, somada à de milhares, abale a estrutura podre do país/pulmão sem remédio nem xarope que sare a tuberculose mortal de que padece.
CAFÉ DA MANHÃ
Cortesia do Cão do Nilo.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros