William Henry Chandler
Stephen Lyman - Moonfire
Da “Globalização” é dito ter uniformizado usos e costumes; assemelhar o que antes era diverso no mundo rico, porque ao pobre pouco ou nada acrescentou. Subtraiu, dizem muitos. Contraponho a divulgação de martírios que sem os cabos óticos e satélites – veículos essenciais - continuariam restritos às vítimas. “Globalização”, em si, não é um mal. O que com ela é feito, isso sim!, pode acarretar mais-valias ou empobrecimento dos seres, do ambiente, do planeta em geral.
Quem longe de Lisboa passa temporadas e atenta nos redores encontra substantivas mudanças nas urbes e nas gentes. Analisando de fora para dentro, sobressai o cuidado das autarquias no asseio, na preservação e melhorias arquitetónicas. É ido o tempo das latas velhas nas lixeiras de beira da estrada, dos casebres, da vil decadência dos lugares. Há rotundas, sim, demasiadas, mas estão ajardinadas e as valetas limpas. É certo que as moradias, quanto mais expostas a quem passa melhor!, empatam a circulação viária – estendendidos os vilarejos pelas bordas dos acessos, o limite de cinquenta horário é tormento nas retas preguiçosas.
Onde antes era “terra de ninguém”, agora, existem infraestruturas de apoio social. Abundam pavilhões gimnodesportivos, centros de saúde – alguns, raros, qualificados humana e tecnologicamente -, atividades culturais, museus, galerias de arte, abertura dos autarcas aos apelos e necessidades dos cidadãos. A economia tem polos disseminados. Os bens produzidos e as matérias-primas circulam sem atropelos pelas «As» e «IPs». A empobrecida rede ferroviária, todavia, serve com dignidade e conforto quem por carris escolhe circular. Os autocarros encontram-se à mão de quem semeia e quer colher. As distâncias encurtaram e destes factos não há que duvidar.
No estar das gentes existem as diferenças maiores com os centros cosmopolitas – o duo Lisboa/Porto pontifica neste particular. A afabilidade, traduzida ou não em saudações, o polimento, arranjo na imagem, o “falar com” e o espírito hospitaleiro são tesouros dos meios rurais. A solidariedade tem rosto e nome. A vigilância (mesquinha?) da vida alheia tem contrapartida a lembrar: se «fulano de tal» falta à leitura do jornal no café do centro, logo alguém lhe bate à porta para confirmar se a saúde não pregou indesejada partida. É necessária ajuda em casa ou fora dela? Não faltam préstimos.
O “Portugal profundo” que enche a boca daqueles cujos interesses obscuros(?) o convocam, está cada vez mais fundo. Se pelo conceito evasivo forem entendidas áreas remotas de pobreza e desproteção, a mancha que ocupam e houvera diminuído, aumentou.
Ao falarmos da «província» com ar displicente, por fineza, dobremos a língua. Com ela muito temos a aprender.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros