Sem Pénis Nem Inveja

Marta Dahlig e autor que não foi possível identificar

Olha p’ra eles, p’rós noivos tão felizes, p’rós súbditos deslumbrados, p’ra um feriado a calhar! Quando o topo da realeza troca alianças em abadias pomposas, rejubila o povo sendo a noiva plebeia e o futuro «esposo» príncipe – é o alter ego que extravasa fronteiras e vem ao cimo por via dos contos de fadas bebidos desde cedo, aqueles das felicidades eternas, dos bosques parados nas páginas coloridas dos livros, beldades loiras com lábios de rubi e olhos azuis, pele de branca seda.

Os festejos do casório envolvem milhares de milhares de libras. E quem da dinheirama  quer saber quando o sonho empolga e cria ilusões de mudança, de esperança individual, de pujança colectiva pelo retorno financeiro da exportação de par de caras larocas que, a partir d’hoje, enfeita a sisudez da casa real britânica? Tanta caneca, tanta loiça, tanta bugiganga, tanto papel higiénico com retratos, tantas fotografias e notícias cor-de-rosa p’ra vender!

Por aqui, a festança está por conta dos súbditos algarvios. Trajados à maneira de convidados da cerimónia – cartolas, fitas e laços, vestimentas de ‘ver a Deus’ enfiados - muitos reúnem-se e, na rua, abancam frente a mesas com iguarias para todos que a eles se ajuntem. Ainda assim, imagino em calções, peúgas dentro das sandálias, na cabeça, cartola de imitação, rubicundo operário turista e lagostim pelo sol. Estivesse lá p’ras bandas abaixo e não perderia pitada da gratuita opereta bufa.

CAFÉ DA MANHÃ