Walter Girotto
Mulher atraente não precisa ser bonita. Ou esbelta. Ou angélica. Mulher atraente tem imperfeição que à perfeição acrescenta o “je ne sais pas quoi” que a outras falta. É feminina desde o peito do pé suavemente arqueado até ao progressivo enrolar da meia que da coxa desce lentamente. Quando se despe. Tem miolos laboriosos. Sustenta, activo, o intelecto. Não desdenha o humor. Solta gargalhada pronta. Ou sorri indefinida – complacência, gosto ou irónica leitura do que vê? Caminha com a coluna direita, conquanto se lhe adivinhe flexibilidade de junco. Ergue o queixo. Sem o apontar ao alto, mas de frente para o horizonte. Luzido o olhar. Ri e chora e hesita e nele reflecte o que vai dentro. Jamais estático, porque da acuidade dos receptores sensoriais faz uso harmónico com a atitude. Nunca banal. A vida exalada por cada poro. Frágil ou decidida consoante o momento. Que não esconde. E porque silenciando revela, atrai. Também pela sensualidade de quem aos cinco sentidos costumados parece somar outro. Invisível. Como campo magnético que às leis da Física desobedece – são inexistentes forças repulsivas.
Mulher atraente não tem facilitado o caminho. Se acresce exigência e prioridades alinhadas, as dificuldades aumentam. Dos atributos que dizem pertencerem-lhe, contam-lhe os homens. Uns bajulam. Mentem, portanto. Outros aspiram a bibelô que o dinheiro não compra. Presunçosos. Usam a mulher para aos demais crescerem na importância. Alguns querem-na pelo desafio. Pelo Evarest da escalada sedutora. Os restantes, e são estes que importam, vêem-na como pessoa. Amável. Arisca. Meiga. Maliciosa. Perspicaz. Plural. Generosa. Granítica.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros