Na saída, “são rosas, meu senhor, são rosas”, brincos de princesa e frescura no ar lavado. O automóvel ronronará, depois, a caminho do centro ainda histórico pela tradição. No Largo, a partir do qual mil caminhos derivam, paragem. Duas gerações directas enveredam pela calçada das muitas esplanadas e um jardim.
O coração da urbe bate aqui no enviesado das ruas e escadas, dos prédios estreitos, significantes. Ex-libris alguns. Outros somente velhos cujas faces foram alindadas. Por dentro, os curadores tratam de preservar o encerado das escadas, a dignidade possível. Se ocupados por serviços, foram remediadas rugas e humidades e a modernidade entrou.
Mas são os ferros forjados por hábeis artesãos que recolhem olhares. Em baixo, hordas de turistas com cabeças empinadas para das fracções arquitectónicas catalogadas não perderem pitada. E tufos de musgo, de ervas selvagens espreitam nos telhados. A roupa debruçada nos varandins denuncia necessidades/hábitos dos poucos habitantes sob o desenho rendilhado.
Existe maior beleza que a simplicidade dos traçados? Edificações coladas, coerentes, cúmplices nos alicerces e paredes-meias abrigam recursos a todos necessários. Conhecem pelo nome os clientes habituais, cumprimentam-nos nos passeios havendo folga entre o ‘quero isto’, ‘quanto custa?’, ‘embrulhe’, ‘tome lá, dê cá’.
Pontifica na artéria a filial dos Grandes Armazéns do Chiado instalada em 25 de Abril de 1910, ano da implantação da República. Foi modernidade da cidade litoral, vendeu mercearias finas, mudou costumes no trajar, terá enfeitado damas e cavalheiros à moda de Lisboa quando Paris, Londres, Roma e Nova Iorque eram lonjuras inimagináveis que raros conheciam. Cumprido o centenário com festa e folclore, continua dedicada às artes e desempenha valorosa contribuição cultural.
Ainda na mesma rua, a desordem de estilos ordenada pelos anos. Para a mulher que se embevece com sacadas e ferros e candeeiros e comércio tradicional, que recorda com saudade o esmero dos arranjos florais da Petúnia Florista para alegrias e lutos, cada reencontro é beber seiva duma das quatro raízes.
No Arco da Almedina, antiga Porta de Barbacã possivelmente construída nos reinados de Afonso III e D. Dinis, está protegida a escultura de João de Ruão. Mais abaixo, a Igreja de São Tiago é acompanhada por escadaria que de cima desce à Baixa Velha.
Rosas de pedra, trabalhadas por cinzel ágil. É a Rainha Santa Isabel inspiradora de tantos ornamentos floridos com idêntico mote? Na dúvida, sejam colhidas por pupilas focadas no alto.
Abandonadas presenças do que foram e ainda são, esperam rosas a chegada. O automóvel detém-se. Na quase curva, o fresco de paredes vetustas, conhecidas, amadas, é desejo quando o sol está a pino.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros