A Bélgica prova o improvável: desde há um ano, vive de modo relativamente tranquilo sem primeiro-ministro ao comando. Dedução imediatista: as redes políticas tradicionais são dispensáveis para os cidadãos ainda que repartidos por regiões e línguas – flamengo, francês e o minoritário alemão. As estruturas hierárquicas funcionam por si próprias, uma vez que Sua Majestade, o rei, apenas acumula postura decorativa com funções extremamente limitadas de Chefe de Estado. Não pinta, nem manda no essencial.
Todavia, a realidade vai além. Na ausência de entendimento entre os partidos mais votados para formação de governo, por tal omissas reformas internas, a dívida belga cresce sem parança – o terceiro país mais endividado da Europa, ocupando a Grécia lugar cimeiro. Maçada que aos belgas aflige sem que o quotidiano reflicta angústia existencial.
Lembrando ter a Bélgica participado de modo determinante na fundação da Europa Unida e nela hospedar sede da Comunidade, adivinho sinal que preside ao futuro dos vinte e sete e à organização política do mundo. Sem bola de cristal é tentador deduzir que estando o Reino Unido nas lonas, a Alemanha em desnorte eleitoral, a Itália entalada em dívidas vultuosas, a França como é sabido, ou o Durão se revela duro de roer e engendra arca de Noé que a Europa salve do naufrágio, ou, caso contrário, o mundo económico-financeiro como o conhecemos desaparece num ápice. Alguns dos centros poderosos deslocar-se-ão para outros países/leme: China, Japão, quiçá a Austrália no hemisfério Sul. O Brasil, a continuar o deslumbre pelo acesso fácil ao dinheiro de plástico, não tarda, regredirá - os europeus fizeram o mesmo e deu no que deu.
Ciclo da humanidade a cujo dealbar assistimos. Talvez fim das democracias ocidentais, talvez princípio duma nova ordem mundial.
Não vai mudar nada. Quantos anos leva a crise? Quantos anos esteve a germinar, escondida? Quantos vai levar a ser digerida? 4+4+4=12. A saída é por desgaste. Vão cair os hábitos supérfluos, vão reduzir-se ao equilíbrio sustentável os modos de vida resultantes de décadas espiraladas de crescimento financeiro aberrante, blasfemo, irracional, criminoso, intoxicado. A democracia purifica-se da retórica papagaia, de quem tudo sabe dizer e nada sabe fazer. Não é o dinheiro de plástico que contamina. É o dinheiro inexistente, negativo, roubado. É querer as portas sempre a abrir, sem ter (a preocupação de saber) quem as fecha. É o caos da teoria e não a teoria do caos. O que é a economia?
PS- A Austrália e o Brasil sempre foram no hemisfério sul.
Aqui há imagens/ideias mais claras http://www.matiklarweinart.com/images/gallery/blessing-1965.jpg http://artodyssey1.blogspot.com/2009/08/matias-klarwein-abdul-mati-klarwein.html
O Durão não o é: é Zé Man'El... que teria feito (melhor/pior?) se estivesse no lugar que assumiu (em nosso nome?). Deixou-nos como a uma Bélgica qualquer, sem PM? Num 'antes só... cada qual que se governe'?
«Do you wanna be ready for financial collapse, world war 3, food crisis, revolution, martial law, and perhaps the end of times? Here is how YOU can help yourself and those you love.» http://www.youtube.com/watch?v=NgrWfJc8F3Q
Creio que a Teresa racionalizou o tema e teve em consideração os ciclos de mudança da história da humanidade. Não sei se haverá lugar para a democracia no futuro que se antevê. Depois da queda do império romano que sucedeu? Idade de trevas que durou 600 anos. Que assim não seja e que a história não se repita.