Havia sol. A Região do Oeste em frente. Piso e traçado maus da A8 percorridos em amável conversa. Quando os vinhedos bem tratados e subindo leves encostas foram constantes dum e doutro lado da estrada, quando a floresta e campos viçosos desembocaram na cidade, ala peregrinar e mercar nas Caldas da Rainha.
Subindo e descendo empedrados que a chuva ensopara, presenças vetustas, arquitectura nobre. As glicínias terminam em gomos verdes, os troncos enlaçados nas grades/limites. Por detrás, monumentos, casas solarengas, algumas abrigando instituições que servem a comunidade. Iniciada a última descida, eis que surge, multicolor, o cerne da vida citadina num sábado.
É mercar, senhores, é mercar os produtos da terra cultivados amorosamente por mãos dedicadas! Chapéus-de-sol aparam a chuva teimosa e miúda. Salvam-se os cordões de pinhões que desde a infância não via, frutos secos e frescos, produtos da terra que maioritariamente idosos vendem. E há o senhor da padaria improvisada com a broa doce, a senhora atrás dum balcão com bolaria variada a meter cobiça.
As primícias alinhadas têm como enfeite folhagem das árvores donde foram colhidas. Vasos com manjericão perfumam, o artesanato em cerâmica feito lado a lado com braçadas de flores cortadas de madrugada. Gotas de água perlam folhas e pétalas, reflectindo o sol entretanto aparecido.
Nada falta, tudo existe do que a terra devolve após o cultivo. As maçarocas de milho maduro em cesto surpreendem a incauta doutro lugar habituada a outros mercados e mercadorias.
Os preços rondam dois terços, metade, vezes muitas, dos comuns nas cidades grandes. Cereja boa a dois euros por quilograma, gente séria vendedora. Tendo caído a caixa dos peros, derramados estes pelo empedrado e logo após perfilados no lugar próprio, arriba cliente. Pergunta quem vendia: _ São para comer hoje ou amanhã? Ai não? Melhor é comprar outros que estes caíram e não se aguentam dias. Semelhante com a senhora dos ovos: _ Molharam-se com a bátega de água. Agora já não se conservam. Compre antes os que salvei enxutos. E a incauta visitante que nada merca comove-se.
Na Casa Bordallo Pinheiro, as maravilhas sucedem-se. O que do barro é engendrado, deuses! A par da tradição, design adequado ao hoje. Revira-se o olhar duma prateleira, duma mesa para outra. Amei as magnólias, a minúcia, o colorido esfumado do trabalho. Ficaram na mesa, não as lascasse o pano de limpeza da ágil e rápida Cila.
A Igreja de Santa Maria aguardava casamento. Enfeitada a preceito, os convidados com ela. Tempo para oração enquanto o sacerdote abençoava o casal a partir dali sério perante Deus como se antes o não fosse ao deitarem o amor com eles na cama. No longe/perto, a muralha de Óbidos, os ‘frescos’ deteriorados na frontaria rente ao adro da igreja.
Começada, havia pouco, a tarde, a fome badalava. Os claustros conduzem ao Vila Infanta. Iguarias esperam o viajante. O dono é anfitrião como poucos – atento, conversa inteligente se necessária, humor fino, idoso com postura elegante, olhos azuis afáveis que mais parecem espelho da alma. A preço módico, refeição digna, cuidada, com o sabor único da comida caseira. Paz dentro do espaço antigo que o restauro não desmentiu.
Enfim a Columbeira! A serra do Picoto é moldura da aldeia. Pessoas conversadoras, afáveis, alegres, risos prontos. Mimos para a dona da dona de duas casas, memórias buscadas da infância e juventude da mulher que por ali fruía alguns dias de férias. Como companhia, abrangeu-me a simpatia reservada à família por todos gostada. Emoção transbordante nas faces de quem há demasiado tempo não via a querida menina/mulher.
Limoeiros, hortênsias carmim, laranjas e vinhos, móveis sem grão de pó cuidados pela Sr.ª D. Luísa. A lindeza das madeiras, o bom gosto decorativo, os detalhes que dum espaço fazem casa apetecível. Obrigada, amiga, pela partilha.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros