Jeffrey Batchelo
Dia de enfiar papel dobrado no esquife eleitoral. Antes, almoço na esplanada do parque verde preferido. Sóbria a ementa escolhida, conversas cruzadas. Atrás de mim, mãe argumentava contra escolha masculina para enlace casamenteiro. A filha restava em silêncio como se entre duas uma: ou o que a mater família dizia entrava a dez e saía a mil, ou recusava diálogo sobre assunto que somente lhe pertencia. Gostei da rapariga que fantasiei ilusionada, odiei a soberba materna de quem por baixo do cabelo ensarilhado em laca possui toda a sabedoria. Postura tão preconceituosa e manipuladora há eras não ouvia e via.
Ao redor, membros das assembleias de voto com lugar marcado, famílias mescladas pelas gerações, pais e criançada ruminando bufete e felicidade parecida com genuína. O relvado extenso pedia biquíni e protector de «UVs». Mas não. Despedi-me com desgosto do lugar tranquilo quando a abstracção esquece ruído domingueiro e avança para pensares íntimos.
No canto da assembleia de voto, xadrez político em rostos sisudos e num sorriso. Pela «pinta» melosa, pela espinha ligeiramente curvada, identifiquei-o como representante de partido que não me seduz – muitos anos a dobrar boletins, direi, percepção bastante de frívolos fundamentando atitudes reactivas pelo vestir doutrem. Uns tristes! Mas devolvi o sorriso e votei no partido oposto. Quanto gozo por ludibriar convencidos! Soubesse o maltrapilho mental a verdade e um esgar teria o meu endereço. Assim, não: encheu peito e ego. Não dei por mal empregue o sorriso - bom préstimo escuteiro, aceite seja a hipocrisia a que não me habituo e por vez rara em quem sou. Mea culpa! Não ajoelhei, nem rezei, tão pouco me submeti a cilício. Mui pecadora me confesso, conquanto faltas outras sejam mais satisfatórias do que esta venialidade.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros