Domingo, 19 de Junho de 2011

REPETIR FELICIDADES

 

Vidas feitas de coisas pequenas. Felizes. Memoráveis. Lembradas amiúde quando os dias correm iguais, quando as surpresas abandonam quotidianos, quando nada acresce emoção. Ou o contrário: vidas grávidas de vontade para tudo abarcarem num instante. E as recordações compõem o bouquet, ramalhete à boa maneira portuguesa. Regresso a lugares onde felicidades foram rainhas.

 

 

Arrozais e casarios em vistas reencontradas. Muralhas geométricas nas ameias. A plenitude que o horizonte largo comporta. O desaguar do chão no céu entremeado pela alvura do casario. E quedo-me como se nunca houvera visto. E nem lembro idos, respiro, porque os olhos também inspiram e expiram.

 

 

Descido o Sol pra cama longínqua, azuis e violetas cobrem o espaço no momento restrito. Cantares e vestimentas doutras eras, o pendular dos corpos ao ritmo musicado, abóbadas, varandins debruados a ferros lineares, tons que de irreais, parecem, não se acreditam. Mas escurecem à medida das horas noctívagas. Outra alegria, nova felicidade para quem nela atente. Os distraídos vêem noite onde outros percepcionam fantasia. 

 

 

Acordada a manhã soalheira, as gentes com ela, é nova a pintura. Os telhados sobrepostos por honesta telha, sem modismos à francesa, bem espreitados exibem no canto esquerdo cúpula alentejana que poderia ser redondo de ilha grega. Felizmente é nossa, ou estaríamos desesperados e lacrimejantes como os nativos da Grécia que da ruína económica não sai nem revela sinais de ressurreição. Paciência, o saber gerir e criatividade não faltem para almejarmos melhor.

 

 

É Alentejo em suas bordas ocres caiadas ao redor das portadas e janelas. Azul sulfato afastaria mosquitada pela repelência do enxofre. Barragem privada, as dunas do Sado à beira, cais palafítico ali tão cerca atraem formas de vida incómodas, todavia com direito a sobrevivência. Dela dão provas ao entardecer multiplicando picadas, depois coceira, depois, ferida.

 

 

Para quem dos verdes não abdica, jardins são maravilha. Os sobreiros, engrossados ano a ano pela casca de cortiça, fornecem sombra e frescura. Cascalho reveste o solo onde germinam cheiros e cores e folhagens várias com intervalos floridos. 

 

 

Apertando o calor, terraço oferece assento almofadado, sombra e bem-estar. As conversas desabrochadas em tão doce lugar, são mel que o esmorecer do dia não afecta. E vão pela noite adentro, e enchem o espírito, e alegram almas já antes contentes.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:53
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
2 comentários:
De Perseu a 20 de Junho de 2011

A sua crónica Teresa está dentro da linha Queiroziana a que já nos habituou. As fotos são uma agradável continuidade da sua produção paisagistica. Sensiibildade e bom gosto.
De Maria Brojo a 20 de Junho de 2011
Perseu - a sua sensibilidade eleva-me acima do que mereço. Obrigada.

Comentar post

últ. comentários

Olá. Posso falar consigo sobre a sua tia Irmã Mar...
Olá Tudo bem?Faço votos JS
Vim aqui só pra comentar que o cara da imagem pare...
Olá Teresa: Fico contente com a tua correção "frei...
jotaeme desculpa a correcção, mas o rei freirático...
Lembrai os filhos do FUHRER, QUE NASCIAM NOS COLEG...
Esta narrativa, de contornos reais ou ficionais, t...
Olá!Como vai?Já passaram uns meses... sem saber de...
continuo a espera de voltar a ler-te
decidi ontem voltar a ser blogger, decidi voltar a...

Julho 2015

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

pesquisa

links

arquivos

tags

todas as tags

subscrever feeds