Vidas feitas de coisas pequenas. Felizes. Memoráveis. Lembradas amiúde quando os dias correm iguais, quando as surpresas abandonam quotidianos, quando nada acresce emoção. Ou o contrário: vidas grávidas de vontade para tudo abarcarem num instante. E as recordações compõem o bouquet, ramalhete à boa maneira portuguesa. Regresso a lugares onde felicidades foram rainhas.
Arrozais e casarios em vistas reencontradas. Muralhas geométricas nas ameias. A plenitude que o horizonte largo comporta. O desaguar do chão no céu entremeado pela alvura do casario. E quedo-me como se nunca houvera visto. E nem lembro idos, respiro, porque os olhos também inspiram e expiram.
Descido o Sol pra cama longínqua, azuis e violetas cobrem o espaço no momento restrito. Cantares e vestimentas doutras eras, o pendular dos corpos ao ritmo musicado, abóbadas, varandins debruados a ferros lineares, tons que de irreais, parecem, não se acreditam. Mas escurecem à medida das horas noctívagas. Outra alegria, nova felicidade para quem nela atente. Os distraídos vêem noite onde outros percepcionam fantasia.
Acordada a manhã soalheira, as gentes com ela, é nova a pintura. Os telhados sobrepostos por honesta telha, sem modismos à francesa, bem espreitados exibem no canto esquerdo cúpula alentejana que poderia ser redondo de ilha grega. Felizmente é nossa, ou estaríamos desesperados e lacrimejantes como os nativos da Grécia que da ruína económica não sai nem revela sinais de ressurreição. Paciência, o saber gerir e criatividade não faltem para almejarmos melhor.
É Alentejo em suas bordas ocres caiadas ao redor das portadas e janelas. Azul sulfato afastaria mosquitada pela repelência do enxofre. Barragem privada, as dunas do Sado à beira, cais palafítico ali tão cerca atraem formas de vida incómodas, todavia com direito a sobrevivência. Dela dão provas ao entardecer multiplicando picadas, depois coceira, depois, ferida.
Para quem dos verdes não abdica, jardins são maravilha. Os sobreiros, engrossados ano a ano pela casca de cortiça, fornecem sombra e frescura. Cascalho reveste o solo onde germinam cheiros e cores e folhagens várias com intervalos floridos.
Apertando o calor, terraço oferece assento almofadado, sombra e bem-estar. As conversas desabrochadas em tão doce lugar, são mel que o esmorecer do dia não afecta. E vão pela noite adentro, e enchem o espírito, e alegram almas já antes contentes.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros