Jack Beal
Quem diria estarmos colados à civilizada e muito bem comportada Áustria numa ‘lista negra’ internacional? Acompanham-nos a Sérvia, Israel, a Macedónia e a Eslováquia. A Agência das Nações Unidas para a Saúde espiolhou meia centena de países europeus e concluiu maltratarmos os idosos de modo a incluir-nos no lote dos seis piores entre os maus.
Os números agora divulgados contabilizam e comparam o já conhecido: aproximadamente, 40% dos nossos idosos estão sujeitos a abusos graves por via dos familiares mais próximos: filhos e netos. Extorsão, negligência, violência psicológica e física, algumas das agressões relatadas por mulheres portuguesas que vivem sós.
Longe vai a era onde era honra considerar os progenitores merecedores de atenção e deles aproveitar saberes que os anos acumularam. Permaneciam até à morte no seio familiar. No hoje, a pequenez das gaiolas/apartamentos, o labor diário dos descendentes, as convulsões e disfunções da família, a escassez de recursos e a ambição somadas à insensibilidade e afectos desacreditados, traçam alguns parâmetros do desgraçado real.
É doloroso assistir à degradação física e mental dos pais e avós. A memória de idos pujantes está presente nos filhos. Havendo valores também consubstanciados na gratidão irreversível pelo amor e ternura que dispensaram, o zelo continua. Sobrepondo-se imediatismo, cobiça e desprezo pela condição de caminhantes para o final, a selva sem lei impõe-se.
Estivesse o país convenientemente alicerçado nos cuidados domiciliários e paliativos, houvesse maior número de voluntários acompanhando os mais velhos e solitários, não era apagado o problema, mas atenuava-o. Lembro boas práticas, raras, sei, que permitem interagir os alunos das escolas e centros de dia onde, em alguns, estiolam idosos. Quem participou nestes projectos garante a maravilha do intercâmbio de competências e saberes, do carinho entre novos e velhos. A pedagogia dos valores também se faz assim.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros