Leonard Wren
Hora útil dum dia útil – como se não o fossem todos da semana e dos meses por serem necessário ócios para reestruturar a energia de quem trabalha! A perspectiva de actividade laboral até aos sessenta meados desanima – sob a capa do acréscimo da esperança de vida e do negrume financeiro, não tarda, a reforma será concedida rondando os setenta a idade. Altura dos achaques surgirem em catadupa. Tempo pouco de sobra para gozo da livre gestão de dias com qualidade. A dor na anca, a memória liquidificada que se esvai, o coração a precisar de remendos, a choruda despesa na farmácia que come fatia substantiva da esquálida «pensão».
Numa hora útil daquela segunda-feira, avançava a tarde. Esplanada sombria a combater o calor do fim de Julho, mais o ardor na pele de quem regressou da praia. O pretexto de água tónica com gelo e rodela de limão mais o livro empolgante sentou-a. A dois metros mal contados, duas mulheres falavam disto e daquilo. Trivialidades. Afundada na leitura, levantou os olhos ao chegar a bebida. Ouviu:
_ Já reparaste como morrem tragicamente alguns famosos?
_ Pois. Olha o que aconteceu à Lady Di, ao Angélico e à Ami Winehouse…
Marcou a página do livro. Olhar no vazio, reflectiu no que ouvira – tantas mortes e dores sofrem anónimas e jovens gentes ignoradas pelo vizinho do lado na colmeia de apartamentos. Mas, pela certa, não deixou de lastimar, quiçá escorrer lágrima pelo desaparecimento da princesa, da Amy e doutros que são comezaina nas revistas.
Tempos houve em que na comunidade do prédio, do bairro, ou da vila, o sofrimento de um não passava ao lado de todos. Neste, gelaram ou não medraram pensares solidários. Poucos fazem a diferença pelo estar atento na vida, entrecortando o lufa-lufa, substituindo pasmos frente às «têvês» por gestos de auxílio aos tais anónimos, àqueles que, por isso, não existem.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros