Terça-feira, 2 de Agosto de 2011

“DAR ÀS DE VILA DIOGO” COM PROVEITO

Autor que não foi possível identificar

  

Neste país, delapidado e «troikiado» o bastante, bolsos rostos na vasta maioria do povo que ao mau estava habituado e o péssimo agravou. Impostos e custos em crescendo encavalitam-se nos castigados desde sempre, agora, como lapas que não despegam da classe média de outrora. Mas é Verão, o Sol aquece corpos e almas e dilui aflições. O regresso ao quotidiano difícil somado às chuvas outonais, à queda das folhagens caducas que deixam nus troncos e seus ramos, abrem carreiros nos espíritos onde fluem, à solta, desesperança, tristeza. 

 

Quem a fortuna bafejou com hortas, leiras, quintas ou casas rurais mais terreno em volta, que as conserve. Vendê-las a troco de parcas lentilhas em tempo de penúria, salvo urgências inadiáveis, é desassisado. Pelo desemprego ou pela carestia dos bens e serviços nas cidades grandes, “dar às de Vila-Diogo” para trabalho honroso na terra herdada onde cresceram raízes da matriz individual, lograr agricultura de subsistência e poupança de dinheiros, havendo possibilidade, revela tino, olho comprido que o longe descortina.

 

Erra quem julga os pequenos centros urbanos do interior desprovidos de escolas com qualidade, de instituições e serviços eficientes, do mexer da cultura, todos ao dispor do cidadão. Nos povoados escondidos, as Juntas de Freguesia tentam que a terra progrida, servem e encaminham os aldeões para vilas e cidades próximas abonadas em recursos inexistentes no lugar. O direito aos cuidados de saúde é o mais esquecido. Na poupar falso e indiscriminado, têm sido esvaziadas extensões dos Centros de Saúde indispensáveis aos rurais. A suposta economia não melhora os cuidados necessários a todos, antes é traduzida em gastos à «fartazana» que abarrotam as carteiras de alguns. Triste sina! Dão com a passividade de gentes sofridas... Mas dia virá em que tão injustamente apertados os cintos, a indignação, aos brados, romperá do silêncio o ruído.

 

Maria João Pires procurou regaço nos arrabaldes de Castelo Branco e durante tempo largo por ali criou estrutura musical e doutras áreas performativas. Não cultivou nem viu crescer primícias vegetais pelas suas mãos plantadas. Mas quem, como ela, génio possui, do cérebro descido até à ponta dos dedos que no piano desbravam acordes, cultiva arte em terras da Beira Baixa. Zanga viria depois. Justa ou nem por isso é valoração de cada um que se arroga o direito de condenar e absolver outrem como sendo imune à humilde condição de humano.

 

Nas encruzilhadas de enganos todos caímos, mais do que a devida conta nos perdemos. E são proveitosos os logros – permitem repensar, crescer, ir adiante, aumentar a tolerância. Ora, acontece que imperfeições «perfeitas» caracterizam a maravilha de ser pessoa auto-crítica e atenta.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 12:48
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
4 comentários:
De c a 2 de Agosto de 2011
não saímos disto. para alguns, país ingovernável (nem governam nem deixam).
fico-me pelas propostas mais (ou menos?) poéticas
- bolsos rostos
- olho comprido
- cérebro descido
- o péssimo agravou
- o Sol dilui aflições
- a queda das folhagens caducas
- tão injustamente apertados os cintos
- romperá do silêncio o ruído
- imune à humilde condição de humano
- e são proveitosos os logros

http://www.portaldascuriosidades.com/forum/index.php?topic=64826.0

http://www.publico.pt/Cultura/maria-joao-pires-renuncia-a-nacionalidade-portuguesa_1390053

http://www.youtube.com/watch?v=M7BXrrtoLzs
De Veneno C. a 3 de Agosto de 2011
Vamos quebrar um pouco a solidão das férias?

«Crise terminal do capitalismo

Leonardo Boff

Teólogo, filósofo e escritor

Edital

Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.

A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.

A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.

O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.

Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugal 12% no país e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas, mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.

A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas, entrelaças por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submete os Estados aos seus interesses e o rentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.

Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.

As ruas de vários países europeus e árabes, os "indignados” que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhóis gritam: "não é crise, é ladroagem”. Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumossacerdotes do capital globalizado e explorador.

... /...
De (continuação) a 3 de Agosto de 2011
... /...

Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da superexploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas.

[Leonardo Boff é autor de 'Proteger a Terra-cuidar da vida: como evitar o fim do mundo', Record 2010
De Frases famosas... a 3 de Agosto de 2011
?... Vamos rir chorar e aprender. Aprender especialmente como casar Céu e Terra vale dizer, como combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade. E, ao final, teremos descoberto mil razões para viver mais e melhor, todos juntos, como uma grande família, na mesma Aldeia Comum, generosa e bela, o planeta Terra.?


Hoje nos encontramos numa fase nova na humanidade. Todos estamos regressando à Casa Comum, à Terra: os povos, as sociedades, as culturas e as religiões. Todos trocamos experiências e valores. Todos nos enriquecemos e nos completamos mutuamente. (...)" ( )

(Sua produção literária e teológica é superior a 60 livros, entre eles o best-seller A Águia e a Galinha. A maioria de suas obras foram publicadas no exterior)

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