Quinta-feira, 4 de Agosto de 2011

O SENHOR MÁRIO E A CUIDADORA-MOR

Lorie Merryman, Max Jacquiard

 

O Senhor Mário, cinquenta e três anos em corpo alto e ágil, bem apessoado, é jardineiro da Câmara. Terminado o horário estabelecido, é agricultor em propriedade extensa e alheia da qual recolhe lenha para a lareira, outros produtos do que existe, do que semeia e planta. Acumula com a tarefa de jardineiro da família proprietária do solo agrícola que cultiva, com a de cuidador doutra casa antiga, mesma pertença. Até este ano, era jardineiro segundo. A família promoveu-o a primeiro e único.

 

Porque de ano a ano os donos regressam à casa da Beira, conquanto na dúzia de meses menos um, abundem telefonemas, o Senhor Mário decidiu fazer contas anualmente. Hoje, após instantes pedidos, anuiu ao pagamento. Cinquenta euros, afirmou ser o total perguntando, de caminho, se eram aceites duas sacas de batatas e umas garrafas de azeite, tudo provindo da quinta por conta. Boquiaberta, a pagadora pôs-lhe na mão o dobro sentindo-se ainda em dívida. Reclamou que não, que era excessiva a quantia, Na partida rumo à Grande Alface, outro tanto lhe pagará sob pretexto que não tarda. Pela amizade antiga, o Sr. Mário e a “minha senhora” como gosta de chamar à mulher e companheira de muitos anos, fazem parte da família cujos haveres beirões zela.

 

Anteontem, acompanhou carpinteiro eficiente para tirar medidas a janelas, portas e portadas da casa aldeã há quinze anos desabitada. Gelos e estios extremados, mais a falta de uso, deterioraram irremediavelmente exteriores. O soalho feito de sólidas tábuas que forra jardim de Inverno, sala, escritório, ex-capela e a meia dúzia de quartos continua firme, bem como a escadaria para o andar de cima construída em madeira diferente. Urgência: barrela e cera abundante. Terreno em socalcos, sobe depois em pinhal entremeado por penedos. Os muros mais não são que pedaços de granito amontoados onde musgo habita. Vista deslumbrante sobre a montanha desde o lagar «na loja» até às águas-furtadas.

 

E a cuidadora-mor deleita-se a cada visita, franze o sobrolho perante o escândalo do orçamento apresentado pelo carpinteiro – poucos ‘Mários’ existem sobre a Terra e ainda bem ou a ruína do negócio pairaria –, sonha com permanência de meses não na casa principal, mas na que se propõe restaurar e foi, também, idílico cenário de férias na infância.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:23
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2 comentários:
De c a 4 de Agosto de 2011
uma bela cena.
um bom dia, apesar de não se entender quem paga a quem, nem a razão de haver orçamento sem valor: nem tudo cabe numa saca de batatas. há pouco, 350 foram-se numas ninharias de alumínio, para velhos amigos. a ruína do negócio é inevitável, como a ruína das quintas cuidadas pelos Mários em vias de extinção.

http://www.youtube.com/watch?v=jCx0vX5BLSY
De justitia a 5 de Agosto de 2011
Texto que coloquei num dos vértices bloguísticos da ignomínia circularmente viciosa: " Um dia, ainda te hei-de ver no banco dos réus e à tua trupe degradante com base em devassa da vida privada e quiçá associado à compra/venda de gente sem escrúpulos, com a anuência de outra gente cujo dever profissional deveria ser combater e meter na jaula gente como tu...Garanto-to...e, aí, toda a gente verá com os seus olhitos as práticas a que te dás nos bastidores com o teu amiguito vouyeur com algo de pedófilo (muito mais velho do que uns meros adolescentes a fotografá-los naquelas figuras degradantes...)...as fotos estão com quem de direito, não desço ao vosso nível, mas sei o que aconteceu... quem eu amei prestou-se a essa indignidade sabe-se lá a que preço, tb já o sei...resta-me saber onde está o produto- quando o encontrar, nem que seja a última coisa que faça na vida, porque num Estado de Direito, meu caro, há muito que estavas na barra..."

O mercado da (in)consciência está, de facto, em alta

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