Sexta-feira, 12 de Agosto de 2011

LONJURAS

M. L. Garmash

 

A noção de lonjura é inevitável quando encarada a distância entre Lisboa e pequenas urbes do “interior profundo” – expressão convencionada cujo último sentido convoca sentimentos menores pelo atávico desprezo institucional por regiões às quais, normalmente, está associada. Podem existir vias de comunicação rápidas com traçados bem 'esgalhados', muitas delas nem por isso, que a lonjura advém dos recursos públicos oferecidos aos cidadãos. As autarquias fazem o impossível por minimizar falhas, conquanto, «às primeiras», esteja por entender a existência dum heliporto em S.Cosmado*, aldeia a um quilómetro da cidade onde existem centros de saúde para cuidados. Sendo o objectivo, pousarem helicópteros no auxílio ao combate de incêndios, está a dúvida esclarecida até pela localização: junto a uma piscina natural que armazena água de ribeiro abundante.

 

O sentir de afastamento entranha-se também por razões outras: modo de estar tranquilo, o conhecer todos, paisagem livre de entulho predial subido em altura, local de trabalho a cinco ou dez minutos a pé nos povoados, equivalente de automóvel até à cidade. Limpa e ajardinada como poucas. A Câmara zela pela tradição do asseio e enfeites vegetais, fornece transporte aos alunos das escolas de aldeia com o fim de neles desenvolver o gosto por desportos vários, convenientemente seguidos em pavilhão gimnodesportivo e numa das duas piscinas, a escolhida aquecida e coberta por arquitectura moderna, digna de ser vista, moldada aos quesitos necessários. O tecto em abóbada forrada por madeira nórdica, a longa parede em vidro permite olhar o limite do Caramulo.

 

Duas bibliotecas públicas, o Museu de Arte Contemporânea, galeria de arte, cineteatro ao dispor de concertos de música dita erudita, a sede da banda filarmónica que a crianças e jovens proporciona formação musical, arredam idear este “interior profundo” como pobre cultural. O melhor é cada evento, grátis na maioria, reunir pessoas à pinha. Olha se em «Lesboua» percentagem significativa dos habitantes faz o mesmo! Depois, há aquela do longe, subitamente curto, quando é muita a vontade e as posses suficientes para assistir a espectáculo apetecível nas duas capitais da cultura.

 

* Povoado referido anteriormente

 

 

publicado por Maria Brojo às 09:57
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
8 comentários:
De Veneno C. a 12 de Agosto de 2011
Aqui vai a minha dose de (bom) veneno para atacar a violação da palavra:

esgalhar
v. tr.
1. Desgalhar.
2. Fazer ou abrir galhos em.
3. Estroncar; escanhotar.
4. [Trás-os-Montes] Dizer mal, falar mal de.

Atávica sim a vontade de dizer mal, sem saber os fundamentos (quem, como, quando) julgando que 'eles' são sempre suspeitos...

Não concordo com as razões apontadas para o 'sentir de afastamento'.

Sempre houve cidades, envolvendo um complexo jogo de ganhos e perdas quanto aos custos da interioridade, profunda ou superficial: quem paga para quem?

«O problema da pobreza é agravado quando os habitantes da classe média e alta começam a sair da cidade, mudando-se para subúrbios mais distantes. Em muitos casos, muitos dos ex-habitantes continuam a trabalhar na cidade na qual eles moravam anteriormente, comumente, no centro financeiro da cidade. Porém, em todo caso, os ex-habitantes já não pagam impostos para a prefeitura da cidade onde eles moravam.»

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade

A culpa é toda 'deles' ;-)

http://www.youtube.com/watch?v=fm1Q7EyDna8
De Veneno C. a 13 de Agosto de 2011
Aprofundando a profundidade do profundo país, um post muito apostado na clareza das palavras, até distingue profunda diferença entre 'expressar' e 'exprimir', espremendo o/s autor/es como ignorantes do português básico.

http://ruitavares.net/textos/nao-ha-portugal-profundo/

Mais um para aprofundar, que prevê que nos afundaremos mais e mais, pelos disparates que continuam a existir, em profunda contradição com as mudanças que urge fazer.

http://www.sedes.pt/blog/?p=958
De Maria Brojo a 13 de Agosto de 2011
Veneno C. - agradeço-lhe a excelente análise do texto e as sugestões deixadas.

A utilização da expressão 'bem esgalhado' é comum nas artes plásticas, em projectos de arquitectura e outros. O sentido atribuído à palavra é o de 'bem pensado', 'bem conseguido o resultado'.

Obrigada.
De Veneno C. a 13 de Agosto de 2011
Então também agradeço, mas sempre vi o esgalhar do lado mais do 'desenrasca' ;-)

E então acontece que a propósito do país 'profundo' aqui vai um conto dum projecto muito bem 'esgalhado' ;-)

http://projetos.unioeste.br/projetos/leitura/arquivos/oficinas/texto03.pdf
De c a 14 de Agosto de 2011
daqui vê-se bem que há água de fartura e que a distância à cidade (não de helicóptero mas pelas ruas da Eira e da Regada e pela estrada N232) deve ser da ordem de dois... três quilómetro (am i right?)

«Gouveia (a 3 km)
A cidade de Gouveia, por sua vez, a 3 Km de Aldeias, encontrou a génese do seu nome nas belezas da Região, tendo sabido conservar uma ambiência muito particular. Aparecendo nos Forais, nas Inquirições e noutros documentos com a designação de Gaudella (adjectivo latino – gaudium – sinónimo de prazer, satisfação, gozo).»

http://www.casadaserra.co.pt/casadesaocosmado/regiao_en.html

http://www.cm-gouveia.pt/concelho/aldeias/Paginas/default.aspx
De Maria Brojo a 14 de Agosto de 2011
C. - grata pela investigação. Aprendi consigo. Uma alteração: a freguesia de Aldeias, desde há décadas está distante de Gouveia 1,2 Km.
De c a 15 de Agosto de 2011
aceito!
talvez as décadas tenham dado lugar a um trajecto menos directo e mais viável e talvez S. Cosmado fique mais distante que o centro de Aldeias?
e... da tal investigação resulta um desafio: é tempo de perguntar ao Pedro Nuno se o tesouro do carvalho ainda está por classificar?
será que esse trabalho vai mesmo sobrar p'ra ele, sem qualquer interesse por parte do pessoal aldeense?

http://sombra-verde.blogspot.com/2007/08/o-magnfico-carvalho-de-aldeias.html

De Maria Brojo a 15 de Agosto de 2011
C. - a explicação da discrepância entre quilometragens é simples: a aldeia estendeu-se para o lado de Gouveia, e Gouveia para o lado da aldeia.

A freguesia de Aldeias é composta por S. Cosmado, 'povo de cá', e por Alrote, 'povo de lá'.

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