Quinta-feira, 25 de Agosto de 2011

O HOJE DAS MENINAS BROJO

G .Jertson, Letitia

 

Mágoa na despedida de amores dois em Coimbra. A idade e a doença corroem espíritos e corpos de duas mulheres admiráveis. Ergue-se como sombra malvada o desânimo pela impotência na peleja contra os males que as afligem, de ser unicamente possível atenuar com presença, cuidados, beijos e sorrisos males invisíveis. Fere a natural alegria que soía fazer do acordar recomeço optimista. E a alma chora baixinho, esconde lágrimas sob um rir ou um desvelo.

 

A consciência do dom de privar, uma vez abertos os olhos para a vida com duas mulheres lutadoras, coerentes é inestimável. Amantes exemplares, cada uma a seu modo. A mãe pela família e pelo pai, única paixão, que acompanhou até ao fim doloroso, a tia pela dedicação aos desvalidos que cedo a arrebataram da família para uma congregação religiosa que a levaria por mundos de injustiças sociais. Quotidianamente, lutou por minorar sofrimentos escusados fosse a hierarquia católica menos dada à abastança e rigidez, os governos dos países por onde andou mais conscientes da distribuição da riqueza por todos.

 

Ambas saíram de S.Cosmado ainda jovens mulheres, as faladas e lindas meninas Brojo. Primeiro, a mais velha para estudar em colégio da Guarda. Muito cedo, descobriu a vocação religiosa, sem que a desviassem do propósito amores românticos que não se importou de deixar pelo caminho. Ela, feliz, inconformados aqueles que a desejavam para companheira na vida. Dizia o povo:

_ Mal empregada!

Os pais não aderiram de imediato à vontade da filha - já na família havia «consagrados» bastantes. Mas perante a obstinação cederam, embora o desgosto inicial demorasse a ter cura.

 

Mais nova dois anos, a benjamim ficou com os pais. Como a irmã cresceu em dotes e beleza, no bom gosto no vestir e estar. Tudo contribuiu para a nomeada estendida aos arredores de Gouveia. Enquanto na Guarda uma estudava, a outra aprendia bordados e pintura na “vila”. Por ali seria descoberta por jovem bem-parecido, militar de carreira, vindo de Lisboa. Namoro por carta, escoltado por chaperon quando o pretendente teve licença de entrar na casa paterna da amada e foram provadas sérias as intenções.

 

Num 31 de Maio que ventava e de chuva, casaram na Igreja de São Cosmado, contava a noiva vinte anos. Tal como a mãe, tal como a filha que da união nasceria um ano decorrido. Escasso tempo depois, estabeleceria a jovem família vida em Coimbra. Por lá ficou e continua a mulher que entremeia alegria quando reúne os descendentes com lágrimas pelo companheiro excepcional que a fortuna lhe traria.

 

Generosidade e dádiva, elos comuns às duas irmãs. Finalmente, juntas após percursos distintos e distantes. E quem as deixa, encanecidas e débeis, na casa forrada a memórias de seda, sofre por cada quilómetro andado que amores tamanhos separa.

  

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:11
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
3 comentários:
De c a 25 de Agosto de 2011
Quase impossível comentar, para não perturbar. A misteriosa roda da vida que, sem parar, tem para cada um as suas voltas e reviravoltas. A arte estará em saber dar a volta sem se deixar atropelar pela carruagem que avança imparável, esperando que haja sempre um amanhã como eternidade.

http://www.youtube.com/watch?v=3eeN5S39rTI
De jotaeme a 25 de Agosto de 2011
OLá Teresa! Sabes o que mais me impressiona nas tuas palavras escritas? A capacidade de transmitir as emoções e sentimentos para reflexões que nós nas nossas vidas, muitas vezes descuramos! Consegues fazer nas tuas visitas um levantamento de indicadores que estão quase esquecidos mas nossas tarefas que nos são impostas neste terrivel ciclo(s) de vivência(s)!
Estamos a ter pouco tempo disponível para para as nossas afectividades e isso é preocupante! Pela minha parte, nos teus textos retiro chamadas de atenção para quebrar as rotinas da grande civilização que nos tomam quase todo o tempo, dia após dia!
Por todas estas razões, não posso de revisitar-te!
Se ainda em férias , bom descanso! "Ele" o mundo "civilizado" chama por todos nós...
Jorge madureira
De Cão a 26 de Agosto de 2011
Alma até Almeida, Teresa C.



Musca

http://youtu.be/KcdSWfWSqGE

Comentar post

últ. comentários

Olá. Posso falar consigo sobre a sua tia Irmã Mar...
Olá Tudo bem?Faço votos JS
Vim aqui só pra comentar que o cara da imagem pare...
Olá Teresa: Fico contente com a tua correção "frei...
jotaeme desculpa a correcção, mas o rei freirático...
Lembrai os filhos do FUHRER, QUE NASCIAM NOS COLEG...
Esta narrativa, de contornos reais ou ficionais, t...
Olá!Como vai?Já passaram uns meses... sem saber de...
continuo a espera de voltar a ler-te
decidi ontem voltar a ser blogger, decidi voltar a...

Julho 2015

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

pesquisa

links

arquivos

tags

todas as tags

subscrever feeds