Paul Rahilly, Jack Beal
Nunca fui de aderir a promessas cuja concretização é dilatada no tempo. Seja da conjuntura ou da experiência que a sucessão dos dias comporta, dou por mim a desenhar sorriso vero ao ouvir nas notícias matutinas que o crescimento económico português será realidade em 2013. A vaga desesperançada deste povo é tamanha que começo a apreciar algumas predições optimistas, conquanto baseadas em números de papel e, por tal, voláteis como brisa. Persisto em renegar mentiras e leviandades politiqueiras que só atam e não desatam o cinto dos mexilhões. Teimo em considerar escândalo o abismo das desigualdades sociais. Porfio no ideal da equidade na justiça, na saúde, nas decisões governantes. Obstino-me no exercício pragmático da análise do visto, deduzido, que o microcosmo dum bairro, duma rua permitem. Mas sonho com advir outro para os concidadãos humilhados há demasiadas eras, com mergulho nos sentimentos e emoções sem temores que me aflijam pelo matutar no como e no porquê; contrariar vida certinha, deserta de utopias, de riscos e risos que envolvem a alma inteira, de quotidianos ronceiros e iguais.
Há uma tela por comprar. Sonho-a. Nela fiz esboço imaginário. Olho-a de dentro para dentro. Detecto erros e corrijo-os. É experiência nova. Amadurecida. Segue ordem diferente da habitual: apaixonar-me pelo branco esticado, pela dimensão, no instante, pensar obra, adquirir e, em casa, arrebanhar óleos, pincéis, diluentes e cavalete. Meses voaram desde que na fantasia pairam traços e cores. Alicia o perigo implícito da concretização em muito se distinguir do idealizado – são dialécticos viveres seguintes que o ser interpelam. Outono doce ou agreste pode modificar conteúdo e tons que da tela farão o que será. E pelo Princípio da Incerteza, uma certeza: pintura acordada com o acontecido e o por acontecer.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros