Domingo, 18 de Setembro de 2011

TAMBÉM ACTA E PASSIO

Demasiado tempo passa até novo passar atento por símbolos duma cidade rural que apenas o andarilhar sem tempo concede. Quem adora silêncio e cidades com ruas vazias pelo fim dum dia útil que recolhe p’ra janta os habitantes prefere a hora do ângulo mínimo entre Sol e horizonte. Em Setembro, nesta latitude e longitude, esmaecem cores vibrantes, é adoçado o ouro da estrela maior que a Terra governa, sem que da ‘estrela monstro’ – ao nascer trezentas e vinte vezes maior que o Sol e de seu nome R 136a – queiramos saber ao impedir o crescimento dos planetas em redor. Vale a precariedade da sua existência no Universo por falta de alimento composto de gases e poeiras. Mas quem sobre astronomia se interroga quando a doçura está no perto? Quando o encantamento surge em brancuras que escondem granitos, em telhas talvez partidas, em memoriais simples?

 

 

Pedro Botto Machado, nasceu na cidade serrana que prende o meu afecto sempre e o viver quando calha. Republicano convicto e arrojado, ao casar com D. América Garção Stokler, mulher de grande fortuna, deu ordem para ser levantado, junto à ponte, edifício que abrigaria escola, Associação de Socorros Mútuos dos Artistas e Operários locais, Centro de Instrução e Recreio e a Associação Musical Gouveense. Da banda e da orquestra filarmónica conheço dotes que orgulham os locais. Com razão. Se a lobrigo em exibição pública difícil se torna dali arredar pé. Beneficiou ainda outras instituições. Ignoro se faleceu deixando a família pindérica por conta de generosidade tanta. Dum tetravô sei o acontecido pelo gosto da, então, vila possuir hospital decente e ter partido cedo deixando a filharada entregue à Senhora Dona Legítima inapta para gerir a fortuna restante.

 

 

 

Quem de frente encara a Associação, se desviar para a direita os passos encontra declive empedrado. Ao fundo, como se fora adorno a compor ramalhete cheiroso, moradia indicia abandono. Somente descendo a rua e encostando o nariz ao gradeamento, a beleza irrompe doutros lados e oblitera a decadência. O sulfato dos azulejos delineia médicos, um deles em seu ofício. São Cosme e São Damião, os santos gémeos cujos nomes originais eram Acta e Passio, lembrados com apuro pela cerâmica acordam com o ocre das paredes. Custa a despedir do lugar; todavia, metros adiante, a escultura que homenageia as queijeiras reclama quinhão do ver sob castanheiro frondoso e seus ouriços. E o resto da luz poente traça estradas nas copas das árvores, nos lajedos e no que mais encontra soando a hora de adormecer. 

  

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:44
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
4 comentários:
De Cão do Nilo a 18 de Setembro de 2011
Gosto do escrito de hoje. Muito.


http://youtu.be/1RItM40rI8I

E ainda das bancarrotas:

http://youtu.be/LQB8WbayfHs
De c a 19 de Setembro de 2011
ignora se faleceu: em 1921

qual tetravô? o da Dona Legítima inapta?

os santos e médicos (terão existido, nas Arábias?) têm atributos controversos e mais que muitos:

Cosme era enfeitado (cosmético) e ambos anargírios
pobres, amigos das crianças e de doces
muito padoeiros (farmacêuticos, médicos, cabeleireiros e barbeiros)

o dia deles está perto!

http://www.velhosamigos.com.br/DatasEspeciais/diacosmeedamiao.html

não devia ter deixado de referir o Vergílio!

a AMG virou SMG e dá boa música:

http://bandagouveia.blogspot.com/2010/01/pedro-botto-machado.html

http://www.bandagouveia.com/home_smg.html




De c a 19 de Setembro de 2011
e está a celebrar centenário!
De António a 19 de Setembro de 2011
admirável, a crónica e notícia do bom estado do edifício do Centro Republicano!

à data da implantação da República, a taxa de analfabetismo ultrapassava os 75% em Portugal, quadro negro que se coadunava com um extenso quadro de miséria muito grave, sem assistência e baixíssima higienização, uma calamidade

os Centros Republicanos, com relevante papel na instrução de crianças e adultos mas também nos cuidados de saúde, estão pouco estudados e nem sempre documentados, amiúde perdendo-se inclusivamente a memória dos edifícios e outros registos de interesse

há dias, foi lançado um livro, da autoria da Professora Célia Pestana, sobre o Centro Escolar Republicano Almirante Reis, apresentado pelo Prof. Miguel Real na Livraria Bucholz, um estudo laborioso e minucioso que recupera saberes, inventários e protagonistas, agora a salvo do esquecimento

por isso dá gosto ver a evocação da obra e as imagens do Centro Republicano Pedro Botto Machado, também uma forma de justa homenagem a um homem de bem

;_)))

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