Quinta-feira, 22 de Setembro de 2011

ABRIR PORTAS DO CÉU

cid

Autor que não foi possível identificar

 

Numa unidade de saúde, Centro de Recolhimento recatado. De segunda a sexta, pelas cinco da tarde, missa para utentes e visitantes. Acompanhei quem ali me levou e o embate com os crentes da unidade de cuidados continuados, muitos em cadeiras de rodas perfiladas frente ao altar, não me foi estranho – a doença e o fim da vida são chegados inopinadamente, julgando todos que estamos neste mundo para “lavar e durar”. Daí a convicção de fruir de cada dia como se fora o último e novo são amanhecer apenas possibilidade. Este modo de encarar o precário traz benefícios ímpares: abertos os olhos para a manhã começada, é tempo de alegria, ronceira antes do ‘café das velhas’ mas alegria ainda assim, que favorece planos amistosos e preciosos, concretizá-los, gozar das pequenas/grandes coisas o melhor.

 

Alto, esguio, sem a clássica voz de seminário, o sacerdote pediu desculpa pelos minutos de atraso. Enquanto duravam, vozes ensaiavam os cânticos, a Doutora Teresa, utente do centro gozando oitenta e seis anos pujantes que somente a visão afecta, dispôs sobre a toalha alva os livros santos abertos nas páginas das leituras, acendeu vela/símbolo de fé, cuidava de estar pronto o necessário. Já paramentado, feita a saudação aos fiéis, vozes suaves cantaram louvores pelo dom do momento. O ritual litúrgico prosseguiu como é comum. Não. Mais intenso – crença espiritual vívida dos presentes, tocante para quem assistia pela primeira vez no contexto. Ao devido tempo, atribuída a extrema-unção a três dos presentes, dois deles idosos com respiração esforçada, outro, uma senhora alta na idade meia da vida previsível estatisticamente. Vestia tons claros que favoreciam a jovialidade da aparência; acompanhavam-na marido e filha atentos. Jamais tendo assistido à «ministração» do sacramento, salvo na agonia da morte e no estado de quase inconsciência, foi tumultuoso o sentir. Ver pessoas a entenderem o instante da bênção para o final sem um gesto de desalento ou lágrima caída na face constituiu sinal de preparação prévia e rebate que todos precisamos para colocar o ocioso das horas em esconso remoto.

 

Mais aprendi: actualmente, a extrema-unção é prestada enquanto a capacidade de escolha individual existe, arredando familiares ou acompanhantes de decidir o que bem pode ser oposto às convicções do enfermo. Abrir portas do Céu a quem nele não acredita é violar o livre arbítrio pertença dos humanos.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:41
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3 comentários:
De ejsantos a 22 de Setembro de 2011
Um samurai abeirou-se de um monge que meditava, em frente às portas de um templo. Perguntou-lhe:
"Mestre, qaul a diferença entre ceu e inferno?".
O monge, impassivel, respondeu:
" Não vale a pena responder a um bruto como tu. Não tens inteligencia para entender. "
O samurai, furioso, começou a desembainhar a espada...
Impassivel, o monge diz:
"Assim se abrem as portas do inferno..."
Admirado com a serena coragem do monge, e com a forma sagaz de lhe ensinar, voltou a embainhar a espada. Já sereno, fez uma vénia em agradecimento.
O monge, serenamente, diz:
"Assim se abrem as portas do paraiso..."

Bem, em última análise, qual dos portões vamos abrir depende do livre arbítrio.
De c a 22 de Setembro de 2011
'o ocioso das horas em esconso remoto' é uma dose que tirará o fôlego a qualquer moribundo ;-)

já o 'ritual litúrgico' (rito rito) é um reforço que qualquer mortal dispensaria

não há lugar a qualquer abrir de portas nem a qualquer invocação do livre arbítrio de quem está a morrer: seria tal como chamar o INEM

o sentido do livre arbítrio seria muito antes, quando o doente sentisse vontade de procurar uma cura!

"A Igreja, tendo recebido do Senhor a ordem de curar os enfermos, procura pô-la em prática com os cuidados para com os doentes, acompanhados da oração de intercessão. Ela possui sobretudo um sacramento específico em favor dos enfermos, instituído pelo próprio Cristo e atestado por São Tiago: «Quem está doente, chame a si os presbíteros da Igreja e orem por ele, depois de o ter ungido com óleo no nome do Senhor» (Tg 5,14-15)." (n. 315).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Un%C3%A7%C3%A3o_dos_enfermos

o céu da Melua é impróprio para doentes na extrema (é mais para um par de jovens) ;-))

http://www.youtube.com/watch?v=FVlxYkj_8HU


De jotaeme a 22 de Setembro de 2011
Teresa: na verdade eu nunca tinha tido uma imagem com a descreves! Impressionante só pelo relato, quanto mais pelo visionamento "live" de tal cerimonial!
Sempre tive a ideia de uma extrema-unção dada apenas quando já estavam mais para lá e muitas vezes sem poder decisório...
Um abraço para a Teresa e um viva á Vida!
Jorge madureira

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Olá. Posso falar consigo sobre a sua tia Irmã Mar...
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