A confessa ‘menina da rádio’ tem a mania de escutar a TSF desde que a frequência lisboeta nasceu. Dá-me desgostos, olá se dá!, nomeadamente quando em viagem ou no interior português o sinal é desastroso. Mas, na procissão dos dias correntes, gratifica quem lhe segue as pegadas sonoras. E sigo. E ao entrar numa das casas minhas, bagagem recatada, a primeira coisa após o andarilhar de divisão em divisão, é abrir portadas, a segunda catar a sintonia desejada que encha o espaço de continuidade do lugar donde vim.
Ontem, ao ouvir o Pensamento Cruzado, reflecti-me nos dizeres. Tema: “A casa que há em nós”. A harmonia desejada entre o indivíduo e o interior das paredes que, ao cabo de jornada, o recolhem como ninho de paz. Retrato do ser que a casa constitui. A fala silenciosa que tão eloquente é – descreve os humores, períodos de instabilidade, de calma traduzidos no desarrumo ou no seu contrário. A companhia dos objectos, do recheio diverso que ao maestro do espaço confere aplauso da invisível orquestra que dirige. E os músicos ali estão, imóveis, possuindo a mestria necessária ao encanto do conforto doméstico.
Porque caseira me declaro, fruo de cada elemento da estrutura íntima da casa. Pela utilidade, não prescindo de um - a opção minimalista evita complicações nas limpezas e no olhar. Arriba-me à memória sugestão de pessoa mui querida: para num suspiro de empreiteiro, longo e imprevisível, é sabido, completar o restauro da casa do Prado, telhado, pintura interior e exterior, grades protectoras nas janelas nos baixios, portões novos, tábuas do chão afagadas, jardim ordenado, acrescento duma casa de banho e não mexer em reservas financeiras, vender 'apenas' um ou dois dos originais que forram paredes em Lisboa. Mas como, se fazem parte do que sou? Prefiro economizar, avanço comedido, que tesourar a alma.
CAFÉ DA MANHÃ
Sugestão de Veneno C. Sugestão de 'Cão Estrela da Manhã'
O-seu-a-seu-dono obriga a corrigir: gostei muito de aqui trazer o "Beautiful Day" e gostei muito da sugestão musical do C. "Estrela da Manhã" a colorir a bela sugestão do Cão da Estrela da Manhã.
Aquela cesta de pinhas não está na sua queda natural, pois não? Ou é da minha vista...
«Ondjaki nos traz um convincente relato desses fundamentais anos de mudanças e esperanças. Não mais a visão desamparada e repleta de culpas de alguns escritores portugueses - os tugas - que participaram da guerra colonial, nem também a visão militante dos escritores angolanos dos tempos heróicos de Agostinho Neto, mas a visão realista e pragmática de uma classe média que tenta se erguer em meio ao caos. O menino, filho de um alto funcionário do governo, tem um pajem - o camarada António, cozinheiro e voz de uma certa camada popular -, estuda numa boa escola, que tem professores cubanos, e desfruta de algumas benesses, como pegar boleia (carona) no carro do Ministério e contar com telefone e geleira (geladeira) em casa.»
Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não atem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que sogue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: “Fui eu?” Deus sabe, porque o escreveu.
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse: -Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara. A moça olhou de lado e esperou. -Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada? A moça se lembrava: -A gente fica olhando... A meninice brincou de novo nos olhos dela. O rapaz prosseguiu com muita doçura: -Antônia, você parece uma lagarta listrada. A moça arregalou os olhos, fez exclamações. O rapaz concluiu: -Antônia, você é engraçada! Você parece louca. Manuel Bandeira
Meu Quintana, os teus cantares Não são, Quintana, cantares: São, Quintana, quintanares.
Quinta-essência de cantares... Insólitos, singulares... Cantares? Não! Quintanares!
Quer livres, quer regulares, Abrem sempre os teus cantares Como flor de quintanares.
São cantigas sem esgares. Onde as lágrimas são mares De amor, os teus quintanares.
São feitos esses cantares De um tudo-nada: ao falares, Luzem estrelas luares.
São para dizer em bares Como em mansões seculares Quintana, os teus quintanares.
Sim, em bares, onde os pares Se beijam sem que repares Que são casais exemplares.
E quer no pudor dos lares. Quer no horror dos lupanares. Cheiram sempre os teus cantares
Ao ar dos melhores ares, Pois são simples, invulgares. Quintana, os teus quintanares.
Por isso peço não pares, Quintana, nos teus cantares... Perdão! digo quintanares. Manuel Bandeira
Adicionar à minha coleção Na coleção de 11 pessoas Mais Informação
A Cópula
Depois de lhe beijar meticulosamente o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce, o moço exibe à moça a bagagem que trouxe: culhões e membro, um membro enorme e turgescente.
Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinenti, Não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se. Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se E fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente
Que vai morrer: - "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!" Grita para o rapaz que aceso como um diabo, arde em cio e tesão na amorosa gangorra
E titilando-a nos mamilos e no rabo (que depois irá ter sua ração de porra), lhe enfia cona adentro o mangalho até o cabo. Manuel Bandeira
O Bandeira deixou-nos... e espero que esteja bem, lá onde ele gostava:
VOU ME EMBORA PRÁ PASÁRGADA Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada Aqui não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive
E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro bravo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d'água Pra me contar histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para gente namorar
E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar - Lá sou amigo do rei - Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada.
porque amnhã é greve geral.... http://youtu.be/TIrwF7rOJVc
E ainda:sem greves não há conquistas de assalariados nos últimos 100 anos....
I dreamed I saw Joe Hill last night, Alive as you or me Says I, "But Joe, you're ten years dead," "I never died," says he. "I never died," says he.
"In Salt Lake, Joe," says I to him, Him standing by my bed, "They framed you on a murder charge," Says Joe, "But I ain't dead," Says Joe, "But I ain't dead."
"The copper bosses killed you, Joe, They shot you, Joe," says I. "Takes more than guns to kill a man," Says Joe, "I didn't die," Says Joe, "I didn't die."
And standing there as big as life And smiling with his eyes Says Joe, "What they forgot to kill Went on to organize, Went on to organize."
"Joe Hill ain't dead," he says to me, "Joe Hill ain't never died. Where working men are out on strike Joe Hill is at their side, Joe Hill is at their side."
From San Diego up to Maine, In every mine and mill - Where working men defend their rights It's there you'll find Joe Hill. It's there you'll find Joe Hill.
I dreamed I saw Joe Hill last night, Alive as you or me Says I, "But Joe, you're ten years dead", "I never died," says he. "I never died," says he.
Joe Hill, organizer of Industrial Workers of the World, executed in Utah, USA, in 1915.
Versão portuguesa, virando, com a alegria possível, os austeros provocadores da crise:
Uns vão bem e outros mal
Senhoras e meus senhores, façam roda por favor Senhoras e meus senhores, façam roda por favor, cada um com o seu par Aqui não há desamores, se é tudo trabalhador o baile vai começar Senhoras e meus senhores, batam certos os pézinhos, como bate este tambor Não queremos cá opressores, se estivermos bem juntinhos, vai-se embora o mandador Vai-se embora o mandador Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição De velhas casas vazias, palácios abandonados, os pobres fizeram lares Mas agora todos os dias, os polícias bem armados desocupam os andares Para que servem essas casas, a não ser para o senhorio viver da especulação Quem governa faz tábua rasa, mas lamenta com fastio a crise da habitação E assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição Tanta gente sem trabalho, não tem pão nem tem sardinha e nem tem onde morar Do frio faz agasalho, que a gente está tão magrinha da fome que anda a rapar O governo dá solução, manda os pobres emigrar, e os emigrantes que regressaram Mas com tanto desemprego, os ricos podem voltar porque nunca trabalharam E assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição E como pode outro alguém, tendo interesses tão diferentes, governar trabalhadores Se aquele que vive bem, vivendo dos seus serventes, tem diferentes valores Não nos venham com cantigas, não cantamos para esquecer, nós cantamos para lembrar Que só muda esta vida, quando tiver o poder o que vive a trabalhar Segura bem o teu par, que o baile vai terminar Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição
Fausto, Madrugada dos Trapeiros, 1978
Versão americana, muito batida, bem (em)balada, pela bela Baez:
The Union is all the working man really has, the world is becoming increasingly corrupt, and the Union is not immune to human greed, but to have protection on the job is sometimes very needed, and it is nice to have weekends off and 8 hour days, which the Union fought and lost a lot of good men for the benefits the worker has today. videotimesss1 1 ano atrás
Citando o comment do veneno C: "The Union is all the working man really has, the world is becoming increasingly corrupt, and the Union is not immune to human greed, but to have protection on the job is sometimes very needed, and it is nice to have weekends off and 8 hour days, which the Union fought and lost a lot of good men for the benefits the worker has today." Eu sei que a mnina na é lá muito pelas greves (presumo) pero que las hay las hay... ou seja vá-se habituando. e como dizia o outro: We live in a political world:
http://youtu.be/_YQaHyK8Xzc
Early morning poem and music for strikers... Writer: LENNON, JOHN
As soon as you're born they make you feel small By giving you no time instead of it all Till the pain is so big you feel nothing at all A working class hero is something to be
They hurt you at home and they hit you at school They hate you if you're clever and they despise a fool Till you're so ****ing crazy you can't follow their rules A working class hero is something to be
When they've tortured and scared you for twenty-odd years Then they expect you to pick a career When you can't really function you're so full of fear A working class hero is something to be
Keep you doped with religion and sex and TV And you think you're so clever and classless and free But you're still ****ing peasants as far as I can see A working class hero is something to be
There's room at the top they're telling you still But first you must learn how to smile as you kill If you want to be like the folks on the hill
A working class hero is something to be If you want to be a hero well just follow me
Oh menina... o homeless diz e sente :A casa que não há em nós....São seis da matina e viva a greve e com a devida vénia parafraseio o Veneno C: "The Union is all the working man really has, the world is becoming increasingly corrupt, and the Union is not immune to human greed, but to have protection on the job is sometimes very needed, and it is nice to have weekends off and 8 hour days, which the Union fought and lost a lot of good men for the benefits the worker has today." A condizer ... e não só...
"Everybody Knows"
Everybody knows that the dice are loaded Everybody rolls with their fingers crossed Everybody knows that the war is over Everybody knows the good guys lost Everybody knows the fight was fixed The poor stay poor, the rich get rich That's how it goes Everybody knows Everybody knows that the boat is leaking Everybody knows that the captain lied Everybody got this broken feeling Like their father or their dog just died
Everybody talking to their pockets Everybody wants a box of chocolates And a long stem rose Everybody knows
Everybody knows that you love me baby Everybody knows that you really do Everybody knows that you've been faithful Ah give or take a night or two Everybody knows you've been discreet But there were so many people you just had to meet Without your clothes And everybody knows
Everybody knows, everybody knows That's how it goes Everybody knows
Everybody knows, everybody knows That's how it goes Everybody knows
And everybody knows that it's now or never Everybody knows that it's me or you And everybody knows that you live forever Ah when you've done a line or two Everybody knows the deal is rotten Old Black Joe's still pickin' cotton For your ribbons and bows And everybody knows
And everybody knows that the Plague is coming Everybody knows that it's moving fast Everybody knows that the naked man and woman Are just a shining artifact of the past Everybody knows the scene is dead But there's gonna be a meter on your bed That will disclose What everybody knows
And everybody knows that you're in trouble Everybody knows what you've been through From the bloody cross on top of Calvary To the beach of Malibu Everybody knows it's coming apart Take one last look at this Sacred Heart Before it blows And everybody knows LEONARD COHEN.
e (alegria) no dealbar do dia da greve geral. Nesta manhã brumosa pensamentos para as palavras do evangelista Lucas em tradução de Monteverdi na Veneza de 1610 "Que casquem nos poderosos...é difícil, mas ter visto pelo menos um poderoso" afocinhar" ...adorei e adoro.Se bem que o prazer não dure muito...mas isso já está incluido na definição de humano prazer...
"DE possuit potentis de sede et exaltavit humilis"