Lia desde os cinco. Antes, com ajuda do avô e do pai, juntara letras para satisfazer a necessidade louca de descobrir o sentido daqueles desenhos impressos a negro que contavam histórias lidas pela mãe ao adormecer. Satisfeito o sono, pulava para a cama onde a esperava o colo materno; continuava a ouvir o que a noite interrompera. Devorou a ‘Formiguinha’ antes da entrada na primária. Talvez pela condição de filha única, além dos amigos reais, privilegiava os imaginários, dela em lugar primeiro, dos Grimm e de La Fontaine. Da Comtesse de Ségur, da Louisa Alcott, mais tarde. Da Odette de Saint-Maurice cujas estórias ouvia nos sábados da rádio sob o formato de episódios. Desenhava as cenas, treinava a figura humana. Fez do carvão um amigo – os lápis de cor pouco lhe diziam. Blocos de ‘papel cavalinho’ gastos em menos do soprar de um fósforo. E os pais, compreensivos e atentos, reabasteciam-na dos instrumentos/brinquedos. E pensavam a filha como menina-prodígio pela celeridade das aprendizagens e múltiplos interesses. A verdade desmentia – tão somente criança só buscando na fantasia irmãos que não tinha.
Um dia, desprezando a conversa das cegonhas, da mãe quis saber se nela existia a vontade de ter um bebé. Que sim, que tinha, que se veria. E tinha, mas não chegou. Até hoje, o porquê não foi explicitado e vivem ambas a não-pergunta, a não-resposta. Fosse noite de estio que pede liberdade fora de paredes e nenhuma das lembranças acima ocorreriam. Mas é serão dum Dezembro morno acolhido em alma fervente a propiciar revisitação de idos, enquanto lãs e enfeites desenham motivos outros.
Il y a deux filles en moi Celle qui chante la joie Il y a deux filles en moi Celle qui pleure tout bas
L'une me dit que tu m'aimes Mais l'autre ne le croit pas Pour les deux j'ai de la peine Il y a deux filles en moi.
L'une dit : "J'ai de la chance Et pour lui, j'ai tant d'amour Que mon cœur aura confiance" Attendant son retour L'autre dit : "Demain peut-être, Il ne me reviendra pas La maison sera déserte, La vie s'arrêtera"
Il y a deux filles en moi Celle qui chante la joie Il y a deux filles en moi Celle qui pleure tout bas
Mais leur amour est le même Et les deux n'aiment que toi Mais leur amour est le même Il y a deux filles en moi Il y a deux filles en moi