Para quem gosta de Arte Sacra, a temporária do Museu de Arte Antiga é mimo raro. “Cuerpos de Dolor – A Imagem do Sagrado na Escultura Espanhola” está patente até 25 de Março e é excelentemente guiada. Difícil destacar as que mais me tocaram. Num esforçado exercício de memória, a Virgem das Dores de José de Mora, a sensualidade de Santa Maria Egipcíaca de Luis Salvador Carmona, o Santo Antão de Benito da Silveira, o São Francisco cujo autor não recordo – deste, tive a agradável surpresa de possuir um das muitas cópias realizadas no século XVIII que na casa da Beira Alta recolhe o silêncio de hoje.
Porque adiar visita significa as mais das vezes não a fazer, este domingo cinza pede mais beleza que a sumida pelo Sol avarento.
Exculturas, Tejos, grades já cansam num país que já foi e parece indigno do que já era, especialmente quando ainda para ver direito nos obriga a dobrar o pescoço para a esquerda.
Oito distritos em alerta pela neve aproximam mais este povo da realidade em que mergulham e a Virgem das Dores não precisa de ser visitada, pois muitas, virgens ou não, são tropeçadas nas ruas frias, famintas, tristes e molhadas.
Talvez a tal Maria sirva de contra-ponto, mais no tempo do seu dia (22 de Abril).
«Nasceu no Egito no século V, e com apenas 12 anos tomou a decisão de sair de casa, em busca dos prazeres da vida. Providencialmente, conheceu um grupo de cristãos peregrinos que ia para o Santo Sepulcro, e os acompanhou, apenas movida pelo interesse no passeio. ... Ela foi levada ao deserto de Judá, onde ficou por quarenta anos, e nas tentações recorria sempre a Virgem Maria. Perto de seu falecimento, padre Zózimo foi passar seus últimos dias também nesse deserto e a conheceu, levou-lhe a comunhão e ela faleceu numa sexta-feira. O padre ao encontrar seu corpo, enterrou-a como a santa havia pedido em um recado.»
Que pena não saber mais do S. Francisco por si possuído: será o Xavier, recolhedor do silêncio em Alta?
«... Francisco nasceu no castelo de Xavier, na Espanha, a 7 de abril de 1506, sofreu com a guerra, onde aprendeu a nobreza e a valentia; com dezoito anos foi para Paris estudar, tornando-se doutor e professor.
Vaidoso e ambicioso, buscava a glória de si até conhecer Inácio de Loyola, com quem fez amizade; e que sempre repetia ao novo amigo: "Francisco, que adianta o homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma?" ...»