A literatura, quando de qualidade, é fonte de ensinamentos que duram para lá do tempo em que foram. Prova-o este “Diálogo entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, extraído da peça de teatro Le Diable Rouge, de Antoine Rault” que adaptei aqui e ali:
"Colbert: _ Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço... Mazarino: _ Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem! Colbert: _ Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis? Mazarino: _ Criam-se outros. Colbert: _ Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres. Mazarino: _ Sim, é impossível. Colbert: _ E então os ricos? Mazarino: _ Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres. Colbert: _ Então como havemos de fazer? Mazarino: _ Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais!Esses, quanto mais tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável."
Numa dezena de «tiradas», os princípios básicos da exploração que nos sujeita e traz acabrunhados. Assim era. Assim será? _ Não creio. Em 2010, 25% das transacções escaparam ao fisco. A percentagem subiu devido ao aumento do IVA. Cerca de quarenta mil milhões de euros são o valor da actual economia paralela. Com isto e mais se desmente parte da argumentação de Mazarino. Nova ordem social terá de ressuscitar parte substantiva deste mundo agonizante.
Parece que tudo aqui saiu destoando: já não vamos a tempo de ensinar o Padre Nosso ao Vigário, ninguém aceita essas lições, o tempo disso já foi.
O Diabo Vermelho não está ali, e a carga de pau seria mais apropriada à estória que ficou por cima dele:
«... Uma história surreal? Não. Nada de histerismos. É a justiça a funcionar em Portugal. Percebemo-lo melhor quando se lê o acórdão do Tribunal da Relação que teve como relatora uma senhora Juíza Desembargadora Eduarda Lobo. Ao que conta o Correio da Manhã, no acórdão defende-se que obrigar a fazer sexo oral não é acto violento. Para o Tribunal da Relação o médico não cometeu o crime de violação porque não atentou “gravemente contra a liberdade da vontade da ofendida” [no acórdão] lê-se que “agarrar a cabeça (ou os cabelos) de uma mulher, obrigando-a a fazer sexo oral, e empurra-la contra um sofá para realizar a cópula não constituíram actos susceptíveis de serem enquadrados como violentos”. A suspeita é legítima. Não, a senhora Juíza não é da Maçonaria! Nada disso, é outra a suspeita. A senhora Juíza Desembargadora, eventualmente, terá alguma simpatia pelo sexo desvairadamente violento, sem mútuo consentimento!? Muito bem, estará no seu direito. Nada a obstar. Se assim não é… então, não lhe faria mal experimentar. Para bem ajuizar.»
http://rebucadodementol.blogspot.com/
No segundo caso e na sequência do supra dito, aconselharia esta cena mais actual e realista:~(
http://www.youtube.com/watch?v=vd5JspC7TzE
Para que não fiquem dúvidas quanto à intenção do David, vejamos:
1º - David Ligare is one of the most creatively complicated men you’ll ever meet. He’s the 21st century tripartite combo of Socrates, Picasso, and Homer – a scholar, painter and classicist all rolled into one. He has an unquenchable thirst for knowledge and is driven by his philosophy.
David is an artist in every sense of the word who believes his craft is a matter of solving problems. While thousands of artists have already solved the problems of conceptual art, abstraction and realism, David’s been tackling the problem of narrative art since the 1970′s.
2º - A great illustration is “Hercules Protecting the Balance Between Pleasure and Virtue” (1993). In Ligare’s painting, Hercules is breaking up a fight between Virtue and Pleasure. Historically, Hercules had to choose between excessive luxury and responsible action. Most parents teach their children to pick the latter. But David sees it differently. His classicist beliefs tell him balance is the essence of quality living. So according to him, “Hercules must not choose one over the other, but must incorporate them both.”
Voltando ao ritmo brasileiro, fica muito mais claro e é mais actual que o teatro do Rault: