Amelies Welt
Não fosse ter sido aluna do Infanta D. Maria em Coimbra talvez o título da notícia que remetia para a escola secundária tivesse sido lateral à atenção. Li atenta, habituada ao que tudo vem dali ser relativo a ensino exemplar e posição cimeira nos rankings de sucesso nacionais. Mas não - duas professoras de Biologia suicidaram-se em menos três semanas. Corpo docente e discente, assistentes operacionais optaram por minuto de silêncio.
Sabido é que o exercício de professorado desmente expectativas de trabalho adequadas à função. Os desmandos impostos sob forma de lei que, despudorados, desmentem o outrora garantido, as condições para o labor, o desinteresse dos alunos sem relação com o desempenho do professor, a tonelagem de carga burocrática, propiciam a insatisfação docente. Sem adivinhar razões para atitudes tão extremas, um todo é motivo. Todavia, interessaria esmiuçar causas que, profilacticamente, tragédias semelhantes prevenissem.
Lembro, galhofeira, a época da Maria dos Craveiros - a espiã-mor ao serviço da reitora. Solteirona rígida no pensar, rígida no estar e sabem os deuses onde mais, vigiava comportamentos e audácias que nos aproximassem da cerca onde passavam alunos do liceu masculino. Duzentos metros, era a distância imposta. Chegado o tempo cálido, ou usávamos soquetes, ou beliscava as pernas das alunas para estar segura do cumprimento das regras que mandavam usar meias. De vidro, era dito, ou collants transparentes. Nos corredores do Infanta, a esquerda era para quem vinha dos ginásios, a direita para quem ia. Mulherio adulto e juvenil por todo o lado – ilha na sociedade. Os pais sossegavam por saberem as meninas entregues a boas práticas no ensino e melhores(?) costumes. Quem fora não tivesse envolvimento saudável, saía do Dona Maria para a faculdade como idiota de truz. Aconteceu comigo.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros