Bo Bartlet
Adormecera em sossego quando o sol se recolhera entre o mar e a Arrábida e a doçura do poente lhe pediu luz coada pelos reposteiros em tecido fino. Caminhara por todas as veredas do lugar que amava feito de verdes e serenidade. Durante quilómetros, sentira nos pés o esbracejar suave das ondas, na pele, a quentura solar, no espírito, a poesia do texto escrito nas pegadas. Fotografá-las seria reduzir a imagem inglória o percurso do sentir. E quanta riqueza acumulara naqueles dias da fuga! Decidiu preservá-la e reservar a objectiva para o não íntimo onde a alma residia.
Pareceu-lhe manhã ao revolver os lençóis macios. Evitou o relógio, rejeitou olhar o fora, negou a objectividade que no quotidiano lhe deixava escassos momentos de clausura. E se deles precisava mais do que alimento para o corpo… Eram cascata de água limpa lavando o pensamento da ociosidade dos detritos que sempre arranjam modo de contaminar o precioso dos redutos individuais também mar ora tranquilo, ora revolto. As marés malfazejas tentava combater com denodo, não deixassem lastro indesejado. Sem proveito.
Eram cinco da madrugada, soube pelo negrume exterior iluminado com magnificência (artificialidade que desculpava). Soube pela voz que na rádio debitava noticiário à hora destinada. Ficou com música, o corpo nu estirado no sofá, o chá verde à mão. A espertina chegara a tempo de olhar o invisível tranquilamente. Remirou-o. A fuga alindara-o. A espera da manhã reconfortara espírito moído.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros