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Raiz quiçá tão profunda como a tragédia desta fiscalidade perversa que nos estrangula, tem a questão pilosa, a masculina em particular. De facto, a relevância do problema é fácil de aceitar: interditos aos machos humanos lacinhos, ganchos, travessões, tótós e bandós, o cabelo é para eles mais que moldura do rosto, é montra publicitária – “olha para mim tão viril e cabeludo!” Daí a julgarem, vã mania!, que o engodo dos pêlos é essencial ao sucesso, ao ar fresco e jovem, à respeitabilidade, ao engate, à performance sexual. E vigiam cada cabelo que ao acordar fica na almofada, na banheira no pós-duche, ou que a escova arrecada. Cabelo provocadoramente caído no lavatório, merece epitáfio: “ó desgraçado, seu reles, mal-agradecido por tanta ampola e massagem. Fica sabendo: cabelos há muitos, eras só mais um, ó palerma! E é. E fica no lavatório. E dali não o tira quem, por cair, o vilipendiou.
Do cabelo deles, mais do que a abundância ou rarefacção, prezo observar o arrumo. Não me escapa o estilo Yul Bryner (tipo fuga para a frente de quem ao medo julga dizer não), a criativa e irreal pelagem de jogador da bola (a par das respetivas pernas e rabos são mais eficazes que cartão de visita), o estilo manga-de-alpaca convicto, o de hipotecado diretor de PME, administrador de multinacional ou político. Nenhum tão revelador como o do peregrino que na noite erótica de Lisboa, a noite dos mil olhos, se compraz.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros