Lá fora, uma chuva miudinha fazia semicerrar os olhos; inclinei o guarda-chuva vermelho que Velda me deixara de véspera. Ajustei o cinto, sorri das superstições de Velda e fustiguei o passo.
Na esquina da 1ª Av. com a 53, Velda saltou do táxi e antecipou o beijo de esposa que ia ser; rosto sorridente emoldurado pelo cabelo louro ondulado e os mesmos olhos negros e vivos que via todas as manhãs quando me estendia o café.
Pedi ao taxista que nos deixasse na Lexington. Pelo retrovisor, reparei num Buick preto que nos seguiu até à alta de Manhattan. Joe de Magio tinha mandado os rapazes fazer o trabalho sujo. Naquele dia estava determinado a enviar-lhos de volta em sacos de plástico com um peixe fresco por cima, como na Sicília.
Recostada, com as longas pernas estiradas sobre o meu lado, Velda exibia as meias de seda até à renda; o vestido, vermelho e justo mal tapava o elástico da liga esquerda; das coxas brancas e fortes parecia emanar um cheiro quente a carne de mulher.
- Pare!
As rodas do carro chiaram quando o taxista guinou para estancar entre o Chevrolet e o camião de mudanças. Saí com a 45 Smith & Weston na mão por entre o fumo branco e negro da borracha queimada. Descarreguei o tambor no para-brisas do Buick ao mesmo tempo que o carregador linear de uma Bereta assobiava chumbo aos meus ouvidos.
E de repente, silêncio. Aquele silêncio de mau agouro que tantas vezes presenciara. Voltei-me para Velda, em pânico. Do canto esquerdo dos lábios, num trejeito ainda feliz, corria um espesso fio de sangue que descia pelo pescoço lívido e se perdia por entre os seios proeminentes, agora ruborescidos. Sem conseguir tirar os olhos dela, as lágrimas molharam o cigarro que acabara de acender.
Era Sábado e ia-me casar, mas as sirenes, ao fundo, evidenciavam-me que Velda continuaria lá, na cidade, nas sombras de Nova Iorque, com o seu guarda-chuva vermelho na minha memória para sempre.
Texto escrito por Emílio de Vera a quem agradeço a qualidade e a prontidão da resposta.
Acha? Não quer escrever também? Só escrevendo é possível sentir as dificuldades que desde a criação duma história até ao produto final afligem. Até lhe dou um bónus: escreva sobre o que bem entender que eu publico. Considero o texto bem engendrado, cinéfilo e remetendo para a Nova Iorque das mil faces.
Escrever a fazer jogos com palavras é um passatempo pessoal que não serve para expôr (como na música, no canto, na poesia, no desenho ou pintura).
Escrever para sentir dificuldades tem melhores alternativas na vida real ou no ginásio. Existem jogos para isso (sudoku, palavras cruzadas, solitário).
Cinema ou NY há muito por onde escolher e desfrutar.
A mensagem, a verdadeira emoção, se lá não estão... não se recomenda (e não se perde tempo).
Mais para entreter: https://www.facebook.com/FabricaEscrita
Conhecia o negócio. Por rabiscar umas coisas até podia vir a calhar. Mas não. Os interesses são outros. De qualquer modo, grata pela sugestão e endereço que pode ser útil a muitos.
«Leinad 15.12.2012 - 19:01 25%? Vão comer um grande balde de dejetos humanos... Na Amazon consigo 70% de receita de capa (com uma condição, se o preço de capa for entre $2,99 e $9,99, senão a rate desce para 30% do preço de capa, mesmo assim continua a ser 5% superior). Outros serviços cobram assim que me registo (o bookbaby cobra $99 e uma fee anual de $19 por cada livro meu em catalogo) mas não cobram por venda, sendo 100% do preço de capa para mim. Ai Leya Leya. Não gosto, não vou usar e vou dar-me ao trabalho de informar todos que possa sobre as alternativas.
A única vantagem que vejo é no mercado interno devido à inexistência real de algo para publicar em portugues, mas tal como o artigo deixa transparecer, é minúsculo e irrelevante.» ------------------------------