Gypsy with a cigarette, de Édouard Manet (The Art Museumm, Princeton University)
Sinto-me ridícula. Quem me dera usar saia estreita e subir a bainha! Não muito – um pouco apenas para andar sem ela varrer o chão. A blusa rasgava-a aos pedaços ou, não fora a raiva que lhe tenho, fazia dela túnica. As outras passeiam-se por aí sem parecerem que foram a casamento duma semana e, passado o tempo, a mesma roupa continua. Até os fedelhos já riem dos trapos da mãe! Mas como convenço o raio d’homem mandão arranjado pra marido? Eu, burra como os burros do meu pai, com medo dos coices dele e de ficar mal falada pela desobediência, disse sim.
Nunca gostei dele. Sabia da forretice, odiava o ar de tronco mal esgalhado, sempre o mesmo fato e chapéu sujos de poeira, os lábios como linhas de poucos sorrires. E os olhos? _ Pintas negras sem parança à cata de negócio. Tornou-me cópia da mãe e escrava dela. Bruxa, bruxa, bruxa.
Pudesse, andaria por aí com sacada de malas e óculos e camisolas da moda. Nem me importava de o ter perto a vigiar-me na carrinha cheia de tudo. Mas não - contrata outras pra o que eu gostava de fazer. Às feiras só vai ele e as tais. Saio prá rua com os quatro garotos que me engendrou. Vão bem na escola por serem finos e saberem que a alegria só lhes vem de lá e dos meus beijos quando chegam. O meu mais velho já tem doze e toma conta dos irmãos enquanto escolho o preciso pra comer. Roubar, não roubam e entram no super – sabem como é o estalar do cinto nos lombos. Mas são uns pedinchões: querem gulodices. Se o pai soubesse assim gasto o dinheiro contado que me dá, (...)
Nota: texto que, há instantes, publiquei no "Museu das Curtas".
CAFÉ DA MANHÃ
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