Quinta-feira, 4 de Abril de 2013

NUM LUGAR TAMBÉM MEU

 

Abel Manta

 

Quem não for com missas é favor passar adiante. Fiquem as palavras para os resistentes. O sétimo dia em que Deus terá descansado ficou oficializado ao domingo. Nas cidades grandes, é pretexto para fugas, o nada-fazer, limpar os metros quadrados que as paredes domésticas limitam, “passeios-dos-tristes”, para namorar ou para discussões conjugais. O freguês pede, o domingo dá.


Nos meios pequenos, os itens continuam semelhantes. Todavia, há acrescentos de monta. A missa congrega crentes e não-crentes. À volta dela, gira a manhã do dia. A partir das oito, batem portões e saem os madrugadores. Cuidados no trajar, os casais de idade são os primeiros a cumprir o ritual. Deixam para depois a feitura do almoço. Havendo família a juntar, mais tempo sobra para os paparicos que, amorosamente, reservam aos filhos e netos. Quem entende que o domingo também existe para remanso nos lençóis lavados, escolhe outra missa. Duas horas mais tarde, batem outros portões.


O centro urbano/rural acumula homens nas esquinas sombrias à beira da Igreja Matriz. Há «entra-e-sai» no café fronteiro. Na esplanada, servida também por tílias, ocupam lugares costumados os clientes sem era e da terra. Novatos ou passantes ficam com as sobras. Ponto de observação privilegiado, enche o olhar de quem está. Feitos os cumprimentos e o escrutínio, chegando a hora aprazada que o sino não lembra, continuam sentados turistas, descrentes e comodistas. Quem preza observar os mandamentos católicos entra na igreja. Muitas mulheres, poucos homens, cabelos brancos, coro afinado e treinado na função, homilia morna - aprendi que alegria espalhafatosa não faz parte das normas do reino de Deus. Acabada a função, todos dizem ámen e eu com eles. À saída, nova rodada de beijinhos e apertos de mão. Sabem como as amêndoas na Páscoa - na época, são delícia, durando ano inteiro, talvez perdessem o gosto especial.


Naqueles lugares, a hora da missa dominical acaba por constituir celebração ecuménica - reúne ateus, católicos de batizados, casamentos e funerais, católicos de todos os dias, coscuvilheiros e fãs da exibição. Mais abrangente, não há.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:21
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