Alexandra Prieto
Reli, treli - outros prefixos quantitativos descreveriam melhor o número de visitas às páginas encantadas – uma história de amor do António Mega Ferreira que titulou “Lisboa Song”. Amor a uma cidade, amor a uma mulher estrangeira que pela mão do narrador descobre mancha urbana, seus habitantes, suas tradições e costumes.
A prosa poética, as imagens recolhidas pela câmara de Amy Yoes não procuram o saudosismo duma Lisboa para turista ver ou daquela outra que foi e já não é. Antes esmiuçam detalhes da vida contemporânea e da arquitetura duma capital onde miscelânea de gentes é olhada amorosamente. Nessa mole humana, os amantes descobrem-se com langor. O mesmo que transporta para a intimidade a lenta descoberta da cidade/lagarta branca ao sol como a descreveu Allain Tanner no filme “A Cidade Branca”. Nele, é um marinheiro suíço, Bruno Ganz, que, farto da condição de embarcado numa “fábrica flutuante de gente louca” aluga um quarto em Lisboa apaixonado pela solidão e pelo silêncio que nela experimenta, pela brancura soalheira que entra através da janela e nas ruas. No corpo de Rosa, Teresa Madruga, desenha cartas marítimas de amor.
Fascinam em “Lisboa Song” as cicatrizes, texturas, a coreografia das esquinas feita de luz e sombras, os símbolos que remetem para linhagens várias: o terramoto, a memória de Ulisses, os ecos de Scarlatti.
“Então ela disse: a cidade é dividida a meio pela memória de um cataclismo. Há cidades atravessadas por rios, as cidades inglesas definem-se pela linha do caminho-de-ferro, há canais por dentro de Veneza. Todas as cidades antigas são assim, fragmentadas, descontínuas. Mas esta cidade, insistiu, o que a define é uma memória. A memória da catástrofe. O Deus dos católicos não é infinitamente piedoso, a nas ser nas suas preces, acrescentou. Mas na cidade também não têm por ele uma consideração excessiva. Acreditam na Fé mas não a praticam. (…)”
António Mega Ferreira in “Lisboa Song”
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