“Querida Rosinha e Manuel,
O telefone não chega para exprimir o que me vai na alma, no coração. É assim um conjunto de gratidão, ternura, um amor de família que desejaria caminhasse para a plenitude. Aí, sim, esse amor seria mais parecido com o amor do nosso Deus. Que ele me ajude a progredir na doação aos outros.
As horas que nos separam após a saída da Estação de Gouveia, estão cheias de recordações que aquecem o coração: o gosto, o cheiro das coisas boas que aí comi; o belo vinho que o Manuel teve a delicadeza de servir no último almoço, o gostinho, o cheirinho da farinheira torrada arranjada com aquele amor discreto da nossa Rosinha; o melão fresquinho, a calma, a alegria das Festas do Senhor do Calvário; a presença dos nossos queridos de Lisboa; a ternura de cada um e a dedicação da nossa Céuzinha naquela despedida que revelou o profundo do seu amor por cada um de nós. Tenho saudades de tudo, até do barulho dos saltos da nossa menina e da beleza das cores e harmonia como se vestia. É linda!
Recordo os nossos passeios à noite e as gargalhadas de cada uma. Recordo as idas ao café, a gente boa que encontrei, a qualidade das tuas amigas, Rosinha. Dá-lhes beijos meus.” (…)
(Continua amanhã o conteúdo desta carta de família encontrada com muitas outras numa secretária esquecida na casa principal da Beira Alta. Foi escrita pela tia Maria do Céu Brojo, religiosa na ordem francesa “Les Frères de La Charité”, num tempo vivido em Portugal em que o pai ainda estava entre nós e a saúde existia. Por testemunhar o espírito de família que desde sempre presenciei e procuro conservar, publico-a.)
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros