Douglas Hofmann
Das partidas, inebriam-me os regressos. Porque dos instantes vividos o último é o melhor, ou não tivesse prolongado a vida até ele acontecer, esqueço os primeiros que inauguraram a viagem, o fim-de-semana ou a manhã.
Não aceitando que do caos tenha surgido a organização do Universo, renovo a cada noite o sentimento de assombro pela certeza do tempo que a Terra demora no rodar sábio à volta dela e da estrela maior. Experimento a doçura de ter calhado esta forma de vida ao meu planeta. De não terem calhado em Saturno as noites dos meus dias. Vinte e nove anos terrestres para descrever uma órbita seria tempo demais para quem aprecia recomeços. E a lonjura? E o frio pela gigante distância ao Sol? Por isso me quero na Terra que amo e concede ciclos adequados à parte do meu ser que não se vê.
Quando a inclinação do eixo encurta os dias e faz maiores as noites, é tempo da rodilha em que o meu corpo se aconchega no sofá. Do livro no colo, da música sussurrada, do rosto lavado, das calças de algodão que o laço do atilho prende à cintura. De me erguer e, encostada à vidraça, desenhar caminhos das pérolas líquidas que as nuvens deixaram cair. São as noites aveludadas pelas sabrinas brandas que confortam os pés, enquanto é pressentida chuva e frescor na rua. E a languidez distende pele e músculos. O espírito regressa ao tempo dos sonhos acordados que o serenam e transmitem paz.
Manso, chega o sono. Mansa, arrumo a noite sabendo que o giro da Terra a prolongará.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros