Autor que não foi possível identificar
Coleções. O prazer de ter. De enumerar. Classificar. Rever. Pela infância e começo da adolescência, embevecia-me o colecionado. Primeiro, os cromos da Disney. ‘Mãe, mãe, compre por favor!’, implorava, apertando-lhe a mão. O saquinho como prémio de bom comportamento. Ansiedade crescente ao abri-lo: _ ‘Estes não são repetidos de certeza!’ (sempre a teima em ver o copo meio cheio quando muitos o diriam vazio). Depois, foram as caixas de fósforos pequeninas enfeitadas por gatos em jardins de fantasia, meninas emolduradas por laços e flores. Mais tarde viria o fascínio por faróis e barcos. Colecionar postais e ordená-los ocupou-me anos da adolescência. Fotografias antigas. Atentar no sorriso cristalizado pela câmara, no olhar fixo, na pose e no cenário. Imaginar vidas. Dos vivos refazer a história. Identificar o ar zombeteiro do tio-avô no menino vestido de marujo da fotografia. Tão sério na postura... Vendo com mais atenção, sim!, lá estava o olhar vivo troçando da encenação. Hoje, não coleciono objetos. Antes momentos. Felizes. De exceção. Como os Natais. Os dias que antecedem a consoada, procuro vagá-los. Sem tarefas em agenda. Isentos de pressas ou compra de presentes. Fruo do que lembre ou identifique ou encarreire quem sou. Mergulho na serenidade que invento. Treino-a no vagar. Na descomplicação do existir. Sobriedade. Dos momentos, preservo registos de ocasião - um postal, uma imagem, um laçarote, um saco de papel. Mais guardo no álbum que oculto no coração.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros