Julia C. R. Gray – Her Mothers Hands Laura Heaney – Washing Hands, Self-Portrait
Mãos/livro, mãos/disfarce, mãos. Do trabalho, revelam calos – enxós e enxadas endurecem a pele como uso de pasta com quilogramas em dossiês; diferentes as zonas coriáceas, idêntico o labor como razão. Unhas castigadas são testemunho de vida carregada de esfregões, óleos, terra, giz. E de mais: que lutam e renegam o ficar no regaço em calmaria indiferente se os dias tremem. Quando brilhantes pelo verniz, apenas contam arranjo recente. Mas é através da pele que o escondido fala. Se rugosa e manchada, conta idade ou envelhecimento prematuro por culpa do esgalhar quotidiano ou da falta de cuidado. Áspera e feminina, delata lixívias, detergentes, roupa torcida com esmero, agulha de quem costura ou cose peúgas, desinfeção frequente que creme não trata. Soe mentirem as mãos quando observadas levianamente. Precisam do complemente do olhar e da fala e do pensamento nela expresso para mais dizerem – o trajar é falácia que convém manter arredia. Fossem organizadas duas carreiras, uma com fotografias de mãos desligadas do contexto e noutra, rol de profissões, é de duvidar jackpot no acerto de ‘lé com cré’. O gesticular ajuda a abrir a página certa do dicionário das mãos. Mãos quietas que não condigam com emoções transmitidas alvitram suspeitas da autenticidade no sentir, contenção ou cartesianismo exacerbado. Mãos agitadas quando o relato é sereno, denunciam incoerência entre a paz aparente e o turbilhão interior. Suscitam curiosidade sobre o ausente no narrado. Manda o bom senso e o respeito pelo outro evitar perguntas, salvo se evidente a necessidade de aliviar carga que amachuca quem discorre. Ainda assim, com cautela, não quebre o cristal íntimo. Motores da «psi» também, escolhidos os instantes, necessitam de empurrão que os façam entrar no andamento preciso ao dono ou ao servo ou a ambos à vez, à vez.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros