Mil milhões de pessoas com fome. Um sexto da população do mundo. Ouvi semelhante a isto: _ é impossível preocuparmo-nos com todos _ por tantos serem ficam invisíveis. Individualmente não é possível ajudar o conjunto. Mas podemos auxiliar um. Escolhamos esse. Porventura habitando ao lado. Façamos dele, causa. A dispersão arruína a solidariedade. Mistura do escutado, e digo eu.
Recado que parece fácil _ “Olha à volta e encontras.” E olhei. Absorvi imagens pobres das gentes do meu bairro. No minimercado, a um quarteirão distante, mãe obrigava petiz a repor na prateleira desejos simples que não podia pagar. De soslaio, eu escolhia figos escandalosos no tamanho e preço.
Pessoa fica nestas: _ ofereço-me para custear os desejos da criança e comporto-me como escuteira que cumpre a boa acção do dia? _ até que ponto avilto o orgulho e a autoridade da mãe? _ simulo não ter prestado conta ao porta-moedas vazio ao lado? _ indago ao vendedor, que os conhecia, onde moram e ultrapasso a intimidade legítima? _ vou para casa servir figos num jantar de afectos primordiais e passo esponja na imagem? Ou lembro e sublimo?
“Feios, Porcos e Maus” é filme e «pré-conceito». Onde cabe e como lidar com a vontade de ir além e fazer mais por quem precisa e vive próximo? Foi há pouco o acontecido. Três horas passadas, não encontrei resposta. Mas servi e comi figos. Enormes. Enchendo a boca. Suculentos. Doces. Óptimos!
Na minha opinião devia ter feito algo que não envolvesse ir para casa e fazer que não era nada consigo. Acho que qualquer que possa ser a nossa atitude ela é sempre preferivel à passividade.
Cátia - não considerei passiva a minha reacção. Interpelou-me o facto, reflecti e decidi segundo o que, na altura me pareceu mais adequado. Aliás, a caridadezinha de circunstância não vai comigo. Obrigada pela sua intervenção.
Já passei por passas dessas tantas vezes :-( E cada vez mais sinto menos obrigação (que não vontade) de agir ali, pontualmente, continuando a vida igual ou pior. Privações (e excessos) vão continuar indiscriminadamente, com toda a injustiça (assimetria) que a sociedade sustenta. No nosso país (na Comunidade - União - Europeia) estamos em regime social. Não se pratica a mendicidade. Os arrumadores cusam-me arrepios. A nossa solidadriedade é obrigatória (imposta) pela via fiscal. E é pesada. E não se deve fugir a ela. É crme. E deve retribuir a cada cidadão na proporção possibilidade/necessidade. Governo, ONG's, Voluntariado têm os seus programas que deverão fazer sempre mais e melhor que a nossa migalha (esmola) acidental. Reflectir e sentir o contraste não é acto passivo. Contribui para ajudar a reformar os anacronismos sociais e humanos da nossa rua, do nosso bairro, do nosso país.
Zeka - sobre as migalhas que vamos dando, seja nos afectos ou nas sociedades, tenho-me interrogado. Por não gostar de fazer dos outros melros à cata de restos, ou me dou inteira e auxilio causas, ou renego dádivas menores.
Confesso desde já que me causa uma certa incomodidade, quando nos dias que vou ás compras nas ditas grandes superficies, se me deparam voluntarios a recolherem alimentos para aquelas pessoas deles necessitados...incomodidade essa pela simples razão de que me parece não ser a solução mais "frutuosa", a fome tem de ser saciada todos os dias, e tambem não consigo ver os limites onde começam e acabam as nossas responsabilidades sociais para este problema.É caridade forçada! Tal como diz o Zeca, a moeda para os arrumadores, é para mim uma violência! Como eu não dou para esta digna classe, fico sempre decepcionado quando pela minha frente eles aparecem...este mundo é assim, cruel nuns aspectos generoso noutros, mas difiçil de lidar com estas emoções... e o nosso interior(do país) desertificado e com terras de cultivo a monte...alimentos por produzir! Jorge madureira
Jorge Madureira - soube hoje que presidiários na zona de Setúbal cultivam hortas e produzem toneladas de bens hortícolas. Vão direitinhos para o Banco Alimentar. Isto sim, cria esperança!
há muitas maneiras de ajudar e na realidade não deixamos de o fazer: em situações concretas que surgem e a que acorremos, na roupa usada que entregamos na igreja ou no centro social, na divulgação que fazemos de situações carenciadas, quando participamos em espectáculos ou iniciativas de beneficência, quando fazemos visitas de voluntariado nos hospitais, quando promovemos a Cais ou as instituições de solidariedade social, sendo que a pequena filantropia é também ajuda - se bem que de facto parece cada vez mais preferível apostar em apoiar as instituições com provas dadas e melhor colocadas para optimizar as ajudas, como as Fundações que se dedicam a causas de solidariedade - lembro campanhas como as relativas à ajuda a Timor ou a iniciativa "1 euro por uma vida", em que a sociedade civil contribuía para melhorar os equipamentos e as condições do serviço de neonatologia da Maternidade Alfredo da Costa - e tantas outras; que tal visitar e lanchar com as crianças da Casa da Criança, em Tires, um vez por trimestre? e polinizar a ideia?
e há uma outra boa maneira de ajudar: trabalhar bem, com afinco, fazer a nossa parte, bem feita - assim a sociedade progride e, embora a ritmo sempre insuficiente, poderão melhorar um pouco as condições de atenuação das situações gritantes