Segunda-feira, 20 de Julho de 2009

JUSTIÇA, LA FONTAINE E A RÃ

Frank La Torre e Rafhael Ray

 

Fábula de La Fontaine revisitada. Fosse assim tão despachada a justiça em Portugal, e não seria a chaga que tantos faz penar.

 

"Decidi sair do trabalho mais cedo e ir jogar golfe. Quando escolhia o taco, notei que havia uma rã perto. Disse a rã:
_'Croc-croc! Taco de ferro, número nove.
Achei graça e resolvi provar que a rã errava. Peguei no taco sugerido e bati. Surpresa: a bola parou a um metro do buraco!
_ Uau! - gritei, virando-me para a rã.
_ Será que és a rã da sorte?
Resolvi levá-la comigo até o buraco.
_O que achas, rã da sorte?
_ Croc-croc! Taco de madeira, número três.
Utilizei o taco 3 e bati. Bum! Directo no buraco. Dali em diante, acertei todas as tacadas e fiz a maior pontuação da minha vida.

 

Levei a rã pra casa. No caminho, falou:
- Croc-croc! Las Vegas.
Mudei o caminho e fui directo para o aeroporto. Nem avisei a família.
Chegado a Las Vegas, disse a rã:
_ Croc-croc! Casino, roleta.
Sugeriu:
_ Croc-croc! 10 mil dólares, preto 21, três vezes seguidas.
A aposta era loucura, mas não hesitei. A rã conseguira a minha credibilidade.

 

Coloquei todas as fichas. Ganhei milhões. Peguei na «massa» e fui para a recepção do hotel. Exigi suite imperial. Tirei a rã do bolso, coloquei-a sobre os lençóis de cetim e disse:
_ Rãzinha querida! Não sei como pagar-te tantos favores. A minha gratidão é eterna.

Replicou:
_ Croc-croc! Beija-me na boca.

Tive nojo, mas fui coerente. No momento em que a beijei, transformou-se numa linda «barbarella» de 17 anos, nua, sentada sobre mim. Empurrou-me, devagarinho, para a banheira de espuma.
 

Houve denúncia, o caso chegou à Comissão de Ética e fui processado. Aleguei:

_ Juro por Deus que foi assim que consegui a minha fortuna. A menina, simplesmente, apareceu no meu quarto. - 

Não só o Presidente da Comissão de Ética acreditou, como todos os membros do Tribunal. Fui absolvido.”

 

Nota  - versão adaptada de um texto enviado pelo caríssimo António Eça de Queiroz.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:40
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
16 comentários:
De jotaeme a 20 de Julho de 2009
Bom dia! Porque será que tenho a sensação de que esta história se tem tornado repetitiva nos nossos dias? Com algumas variantes e sempre com a dama da Justiça, com a venda colocada e céguinha de todo?
Pois...
Jorge madureira
De zeka a 21 de Julho de 2009
Boa madrugada ;-)

Pois eu andava mesmo mais a Leste... agora reorientei-me e achei uma (versão) que é menos justiça e mais cobiça

http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090611161254AA1U8oW (ver melhor resposta)
De Teresa C. a 21 de Julho de 2009
Jorge - cega, lenta e velha. A estatuária que representa a Justiça devia repesentar uma idosa alquebrada.
De zeka a 22 de Julho de 2009
Será mago quem ensaiou, à sua maneira, sobre a tal dita "cegueira"?

Não se enganou (em tal liça) quem "cegou" ao não ver onde anda a tal 'Justiça'.

Reparem só...

http://www.smmp.pt/?p=2896

De Teresa C. a 23 de Julho de 2009
Zeka - se uma conversa havida com um amigo não tivesse mudado o rumo do meu pensar, teria escrito quase sobre o mesmo do autor do sítio que sugeriu e visitei.
Amanhã não escapa.
De António a 20 de Julho de 2009
... ind'assim, haja Lei (entre o forte e o fraco, é a lei que liberta e a liberdade que oprime) e Justiça !

mas efectivamente já os Evangelhos esclareciam: mais fácil é fazer passar uma corda pelo buraco da agulha, que botar um poderoso na choldra, amén !!

e, cá entre nós, mais coisa menos loisa, a inebriante Humanidade still the same after all this years !!!

porém mas não obstante senão quando todavia com (a la Zeka) tudo: que é lá isso da Justiça? é de nós que falamos... são apenas os nossos erros cujos contornos transparecem quando queremos olhar e ver...

e remember Saramago: mais depressa chegamos a Marte que ao nosso semelhante - podemos não ter ainda a galileica prova, mas da lua faz 40 anos que não vislumbramos eco nas gentes

antes os Descobrimentos, em que ao menos nos fizemos um pedacinho mais semelhantes ;->>>






De zeka a 20 de Julho de 2009
Obrigado (mas livre) pela companhia ;-)

Uma das maiores descobertas da minha vida (em termos de cultura religiosa dita por um antropologista) é essa da corda (camelo) passar no cu d'agulha :o)

http://companhia2fz.blogspot.com/2008/07/enfia-me-aqui-esta-agulha.html

Uma outra forma de fazer justiça, enquanto a original do Eva n gelho não metia o pode roso na choldra... mas dificul tava-lhe a entrada no reino do Pai.

E isso sim me confrange, em termos de lentidão no vermos (sem cegueira) os erros em que persistimos - sem nos (auto)criticarmos - reafirmando anti-galileicamente (até quando?) que era um camelo (em vez duma corda)?

Obrigado (mas livre) pelo remember Saramago, pois ainda só andava pela Lua... longe de chegar a Marte, na arte de amar (ver de igual para igual) o semelhante da nossa rua.

Em termos de descobrimentos... afinal é uma (fabulosa)ajuda: alguns semelhantes (muito mais que os outros menos), já lá compraram terrenos ;-)

http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1312784

http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1312588

http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/9926680.html

De Teresa C. a 21 de Julho de 2009
Zeka - não é que há gente neste Portugal que garante, ainda hoje, ter sido Américo Tomás a pôr a bota na Lua em primeiro lugar?!...
De zeka a 22 de Julho de 2009
Coisas (Pessoas, Culturas, Realidades) do País pro fundo. A dia do.
De Teresa C. a 21 de Julho de 2009
António - descobrimentos _ idos de ouro que não soubemos aproveitar. Mas deram nome e permanecem inspiração.

Para nosso contentamento, muitos portugueses repetem hoje epopeias com sucesso mundial. Em vez das caravelas, ciência, desporto e empresas.

E, contrariando Saramago, chegar ao nosso semelhante requer apenas(?) generosidade.
De zeka a 22 de Julho de 2009
Descobrimentos ou emigração?

Contrariando Saramago? Talvez não... uma constatação! Generosidade chega (?) mas o milhão, não (humilham, sim). A Marte vão. Por opção :-(
De zeka a 20 de Julho de 2009
Pois boa noite ;-)

Apanharam-me na Lua com esta versão dita de La Fontaine e da Justiça...

Sem melhor apoio... fui 'surfar/googlar' e -ganda rã da sorte!- esta estória até que na'stá nada mal (com uma bela ilustração que é uma 2 em 1 fabulosa - graças a Visentini)

http://novablumenau.blogspot.com/2009/06/humor-ra-da-sorte-rssss.html

E eu que já estive na Fontana de Las Vegas e não levei a rã (a sério) :-(



De Teresa C. a 21 de Julho de 2009
Zeka - fui ver. As rãs ali em cima são mais ao meu gosto, confesso. :)
De zeka a 22 de Julho de 2009
Mormente a da direita... que bem se ajeita ;-)
Eu, pobre e pe(s)cador... a deixar-me tentar pela pech incha 2 em 1 e pela fábula das coxinhas sucu lentas.
De António a 22 de Julho de 2009
Caríssima Teresa:

1 - contrariar o Mago?

bem pelo contrário!

a que aliás o interrogativo do ponto abre flanco no comentário sob comentário: carecesse, ir a Marte, do qualificativo requisito da generosidade e ninguém jamais pensaria em lá botar esquerda ou perdigota...

em face do que, fica, mesmo se inquietante, mais próximo o planeta distante que o humano semelhante, o que todos sabemos ser verdade - embora eventuais desígnios reservem revelações que tais a génios literários, estadistas de elite, filósofos de eleição e assim outros poedores de ditames universais, por passarem a forma de letra quanto pensam mas não dizem os comuns dos mortais!!

é, pois, precisamente esse o ponto, só que exclamativo e plural, no mínimo a triplicar!!!

sintonia, saramagal e afinal ;->>>

2 - generosa idade

do acima escrito, uma ressalva, porém: onde se diz ninguém, e esquecendo ir a Marte ou mais além, é de reconhecer e registar (com licença de vide, http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=33427&op=all) que em matérias outras tem havido as excepções confirmadoras da regra mas também - quem sabe? - polinizadoras, oxalá, do raro espécime exemplis exemplaris

e para nomear o oxalá exemplicativo fica bem lembrar
a distinção, da Fundação Gulbenkian como intérprete de sentimento geral, ao ACNUR presidido por António Guterres e ao PRIME - Peace Research Institute in the Middle East (projectos humanitários, ao Chapitô (projecto social e cultural de Lisboa), à CEBI - Fundação para o Desenvolvimento Comunitário de Alverca, e à Obra do Padre Américo (projectos educativos), a Maria João Saraiva (projecto médico-científico) e a Vera Mantero (projecto artístico), tudo projectos movidos a generosidade integradora!!!

3 - inspira são

enfim, todas as leituras se permitem aos mui nossos idos e coevos aproveitamentos e achamentos, mas do descobrimentouro nos fala, tanto, a exposição Ecompassing the Globe, prazenteira e orgulhosamente visitável no esplêndido Museu Nacional de Arte Antiga, às janelas verdes

mas tudo vendo (salvo seja) e lendo as entrelinhas - e pés + cabeceiras(?) de página e outra legendagem miúda ou graúda (a começar pelos grãos e pózes das pimentas&canelas que tão-bem abrem o apetite logo no início da exposição ;-) - nas próprias obras ou na obra própria do magnificente (40€, ai...;< ) catálogo, fica bem a ideia de que o V Império é bem merecido

a verdadeira epopeia começou foi com a Fundação da nacionalidade e descontados interregnos depois fez-se mar e Fez-se globo, de que sorvemos bem mais que todo o ouro: conquistámos a especiaria do sonho, para sempre

escusado será alimentar nostalgias (tivemos mesmo um rei que nunca usou coroa, seria vivo o desejado Rei?) sobre o desaproveitamento, pois quando abrimos o coração aproveitamos sempre mais do que desaproveitamos

aproveitemos então o que somos, fazemos e temos e, sobretudo, o que cremos e queremos ser, fazer e ter

;->>>




De Teresa C. a 23 de Julho de 2009
António - OK, adoro-o! Ou, o que vem a dar no mesmo, as interrogações que me coloca.

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