Abundância do tempo de afectos. Não em demasia, mas concentrados em alturas poucas no que à família alargada respeita. Fartote de embrulhos e laços e marcas e cartões e papeis brilhantes. A alegria/amor/soluto festivo mal diluído no ano. Sabe a de menos pela escassez quando era desejada frequência. A demais pelo cúmulo do calendário condensado em mês e meio.
No resto do ano, vezes muitas, são inventados, recriados, comemorados momentos particulares. Nem todos reunidos pelos afazeres ou pela distância. A alguns pesa a ditadura das coincidências. Rondando os oitenta, a fragilidade aumenta e talha o depois da abundância. Habituados à tranquilidade, o cansaço vence-os. Nos dias subsequentes aos empanturrados emocionais, escolhem o pijama e o roupão. Preenchem cada compartimento da caixa diária da medicação. Fazem partilha de memórias que sabe e faz bem a quem ouve e a deseja. E dormem. E lêem, olham, sem ver, televisão. E arribam lágrimas ao recordarem mimos recentes, amores cuja vida terminou. E discorrem sobre imagens de infâncias que ajudaram a zelar.
Aqueles, ontem crianças, hoje adultos novos, enchem de beijos e afagos quem ajudou a surgir pessoas boas da matéria-prima genética. Correm risos. Amor tanto é comum; porém, fosse a geografia benévola, maior frequência nas presenças daria pontapé na saudade castigadora e, com arte, melhor esculpiria o viver.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros