Segunda-feira, 28 de Dezembro de 2009

VENDA NOS OLHOS, ESPADA NA MÃO

 

Walter Girotto

 

Na mistura actual, constam fugas de informação talhadas a bisturi, pressões exercidas sobres juízes da Procuradoria Geral da Républica, Eurojust à mistura. Fado, fatum? Ao completar cinco anos o processo “Casa Pia”, o mais caro e longo de sempre na Justiça que nos (des)regula, não resisto em transcrever o que bem li.

 

"Hugo Marçal está em vias de ser admitido a frequentar o curso de auditor de justiça do Centro de Estudos Judiciários. O nome do arguido no processo de pedofilia da Casa Pia vem publicado no Diário da República, entre centenas de candidatos a frequentar a escola que forma os juízes portugueses. Todavia, ao contrário dos outros, não prestará provas. Pelo facto de ser doutor em Direito - grau académico obtido em Espanha – está, por lei, «isento da fase escrita e oral» e tem «preferência sobre os restantes candidatos». Resultado: o advogado de Elvas está à beira de ser seleccionado para o curso que formará a próxima geração de magistrados!

 

O nome de Hugo Manuel S. Marçal surge na página 4961 do Diário da República - 2.ª série, com o número 802, na lista de candidatos a ingressar no CEJ. Se concluir o curso com aproveitamento e iniciar carreira nos tribunais - primeiro como auditor de justiça, depois como juiz de direito -, Marçal terá o privilégio de não ser julgado num tribunal de primeira instância."
 

Reflexão outra*:

_ “O justicialismo está para a administração da justiça, tal como a politiqueirice está para a actividade política, ou o pretenso moralismo para os fariseus. A medida está naquilo que nos falta: uma moral social, comunitariamente assumida pela autonomia da sociedade civil e pelos seus filhos mais queridos, a liberdade de expressão e a liberdade de pensamento.

 

A medida ou o padrão da torta vida que temos é a régua (de "regula", isto é, de "régua"), tal como norma vem de esquadro, e tal como a ideia que nos deve reger é a recta que traçamos numa folha em branco e que se aproxima do paradigma de recta que todos devemos trazer dentro de nós. Até o "ius", o latino "direito", veio da expressão "ius de rectum", porque ele normalmente fica torto, quando os pratos da balança se desequilibram pelas desigualdades que a vida traz, ao gritarmos «isto é meu».

 

Direito de "de rectum" é o que põe direito o "ius" torto pelos interesses da luta pela vida e da luta pelo poder, onde quem mais tem poderes mais faz pender para o seu lado o prato, o "lanx", da "bi lancia". E a deusa que a sustenta, com espadalhão maior e mais potente, ao colocar a venda nos olhos continua a ser a única que a endireita. Juiz é aquele que escreve direito por tantas linhas tortas...”

 

* "Sobre o Tempo que Passa" em 11-11-09

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 07:58
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
2 comentários:
De zeka a 29 de Dezembro de 2009
SVSE - Sem Venda e Sem Espada

Já que nos mandou ao JAM... não res isto a outra bela re flexão (13/11):

É um excelente "case study", a vida de Sócrates, Vara e Raposo. Três "mirins" e "self made men", a quem certa casta, a que alguns chamam direita, acusa de falta de berço, só porque vêm das berças, sem passarem pelo crivo da legitimidade cultural compensadora, da universidade, do báculo ou da tropa, dado terem tido sucesso na partidocracia, cimeira ou autárquica, na banca ou nos negócios. Espreitemos o processo por outra perspectiva:

Há um nevoeiro de inveja que faz com que não haja espaço para clarificação da única coisa que interessa neste processo: as efectivas condutas, passíveis de sanção pela ilicitude ou pela desonestidade. Quem as pode eventualmente condenar não é o racismo social vigente, mas o direito ou a moral. Temo que se esteja perante a velha anedota da pescada que antes de o ser já o era.

A administração da justiça é como uma loja de porcelana. Com tantos elefantes passeando retórica e parangonas, não é cura a venda de gato por lebre das filigranas do parlamentarês, do ministerialês e do judicialês. Estamos fartos feitores, capatazes e máscaras descartáveis que se usam e deitam fora.Abaixo as guerras por procuração!

As fronteiras entre o privado e o público de uma figura pública têm sempre aquela terra de ninguém do escrutínio público, que não deveria ser confundido com o espaço de podridão daquele vírus multi-resistente que nos vem dos familiares do Santo Ofício, dos moscas do Intendente e dos bufos ditatoriais...

E a melhor forma de combatermos a corrupção está no desenvolvimento de uma moral social que assente na liberdade de imprensa e no efectivo jornalismo de investigação, como, num comentário a recente escrito meu, assinalou o meu colega de sempre, o velho jornalista, Miguel Reis.

O nevoeiro crepuscular que afecta o Presidente, o Governo, o Parlamento, o Poder Judicial e o outro poder, o da comunicação social, ao minar a confiança pública, acaba por entorpecer o o macropoder do poder dos sem-poder, a que, desde sempre, se chamou república, ou comunidade. Da guerra civil institucional só beneficia a força viva dos cobardes!

JAM dixit
http://tempoquepassa.blogspot.com/2009_11_01_archive.html


De Maria Brojo a 30 de Dezembro de 2009
Zeka - belíssimo e ajustado texto. Obrigada por mo trazer aqui.

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