Licenciados, com especialização ou pouco qualificados. Conseguindo trabalho, em média, arrecadam quinhentos euros para a sobrevivência. Maior é o vencimento de uma funcionária doméstica com «casas» para lhe preencherem a semana. Não é a «empregada» que ganha demais – são eles, jovens e adultos até aos vinte e cinco anos, que ganham pouco.
A geração mais escolarizada de sempre é também, pelo império da necessidade, a mais dócil relativamente às exigências dos empregadores. Aceitam cumprir horários escandalosos. Aceitam a precariedade dos ‘contratos a termo certo’ e anos a fio com ‘recibos verdes’. Aceitam trabalhos que não os gratificam, nem, tão pouco, correspondem às habilitações. Porque sem «saber» sabem que o trabalho/ordenado é decisivo na construção da personalidade, na passagem para o mundo adulto com responsabilidade indispensável ao «crescer» digno.
Numa década, subiu para 50% o número dos jovens sem contrato permanente, de um para seis os desempregados juvenis e, neste lote, triplicou o número dos que possuem licenciatura.
Democratizado, o ensino não soube fornecer competências adequadas às exigências dos empresários. As universidades debitam diplomas a um ritmo incapaz de ser absorvido pelo mercado de trabalho. Não é desejável contracção nas habilitações superiores, antes rever criticamente os curricula em todos os níveis da pirâmide escolar. Maior exigência é caminho para alterar o novo paradigma: ‘licenciado ganha a vida num call center’. Mantendo-se, os danos futuros são impossíveis de prever.
Paradigma (do grego parádeigma) literalmente modelo, é a representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas.
Ao abrir com uma abordagem 'paradigmática' pretendo evocar o modelo que orienta a 'formação académica' dos nossos dias.
O que se verifica com os Médicos? E com os Advogados? E com os Professores?
O que aconteceu no passado com os cursos de Química? E com os de Informática? E com os de MBA?
O que está a acontecer com os Mestrados? Já houve 'Orientação Profissional'? Já se quis que cada um fosse um verdadeiro mestre na sua arte, tirando para si - e para o País - o maior benefício possível do investimento na sua vocação/carreira profissional.
O que está a acontecer com toda esta 'igualdade de oportunidades' de todos poderem ganhar o mais possível (fazendo o menos possível)? Prevalece a diferença dos que, de facto, 'valem mais' e conseguem melhor oportunidade. Até há quem vá formar-se 'lá fora' para se 'instalar' cá dentro.
Se todos tivermos cursos superiores (Licenciados) e o desemprego for de 10%... haverá 10% de Licenciados desempregados. E muitos postos de trabalho temporário (verde ou cinzento) serão 'aproveitados' por Licenciados.
Seria um paradigma interessante (já experimentado?) que os Empresários inovadores fizessem planos de actividade a médio prazo e ajudassem a preparar (em protocolos com as Escolas) os Licenciados de que necessitariam para obterem os melhores resultados dos seus empreendimentos.
Falta-nos, garantida mente, um (bom) paradigma de Sociedade Civil, em que o Estado deveria ter um papel cada vez mais 'de tanga' com cidadãos cada vez mais 'de toga'.
Zeka - ideia a reter e que diz muito em pouco: "Seria um paradigma interessante (já experimentado?) que os Empresários inovadores fizessem planos de actividade a médio prazo e ajudassem a preparar (em protocolos com as Escolas) os Licenciados de que necessitariam para obterem os melhores resultados dos seus empreendimentos.
Falta-nos, garantida mente, um (bom) paradigma de Sociedade Civil, em que o Estado deveria ter um papel cada vez mais 'de tanga' com cidadãos cada vez mais 'de toga'."
Será aproveitada como outras suas que, por aqui, têm pegadas.
Tem razão, é um problema candente mas! você enfiou odedona ferida com aquela referenciazinha discreta - habilitações.
Que habilitação dá uma licenciatura (comprada e, eventualmente, em escola barata) feita 'como se sabe', em três anos, depois de um secundário frágil e ao sabor da nota de entrada que manda o aluno-pretenso-médico para uma alternativa-sucedânea qualquer, para além de que, assim-com'assim, ele só queria era arranjar um ganha pão para se mostrar ali em Lisboa com uma fatiota à moda do Sócrates ou vindo das Caraíbas-de-todos-nós, como se fosse bem nascido. Está tudo errado. Recomece por educar 'a sociedade' em casa e os alunos na escola, com intuitos de saber e saber fazer, técnica e socialmente. Depois falamos...
Custou-me muito ler este post. A minha entrada no mercado do trabalho foi muito dificil. Hoje, já com contrato de trabalho e boas perspectivas na carreira, leio e vejo os numeros do desemprego e trabalho precário e solidariza-me com os meus concidadãos vitimas desses flagelos. É horrivel. Mas ainda bem que falou nisto.