Terça-feira, 19 de Janeiro de 2010

35%, 4% E A SENHORA DONA LOURDES

Richard Whitney

 

Funcionária exemplar. Profissional conscienciosa e sabedora – dos laboratórios conhecia segredos que, discreta, sugeria mal eram verbalizadas dificuldades ou carências. Jamais arredada do lugar – não lhe lembro faltas ao trabalho, mesmo quando instada a dar meia-volta e regressar a casa por maleitas; algumas sérias. Ficava. Sorria e as rugas desvaneciam-se.

 

Vez por vez, surgia com o rosto maltratado. Caíra, batera na porta do armário como explicações comuns. Casamento de muitas décadas. Filhos e netos que a amavam. Retribuía com a dádiva que na (im)pessoalidade laboral a caracterizava. Viu-me crescer como mulher e trabalhadora. Conheceu-me aos vinte e três anos. Meus. Continuou na profissão anos a fio além da reforma. O limite de idade remeteu-a à domesticidade exclusiva. Homenageada. Incensada. Mereceu.

 

Soube agora que, três anos após a saída, está num lar. O marido, culpado da violência que lhe marcava o rosto, finalmente!, fê-la procurar refúgio num sítio tranquilo. Teve sorte – 18000 idosos aguardam instituição que os receba quando a vida conta anos demais para utilidade reconhecida. A paga do lugar é incompatível com o líquido da reforma. Emocional e afectivamente apoiam-na filhos e netos. Reconhecidos pelo feito. Sem possibilidades económicas para tudo.

 

Ignorando ainda dados últimos do Eurostat - 35% dos portugueses não têm sistema de aquecimento apropriado em casa e  4% sem direito a refeição completa de dois em dois dias –, o local de trabalho mobilizou-se. Bateram fortes os corações. Partes dos salários empregues em bens e ajudas de primeira necessidade que à Srª D. Lourdes satisfaçam. Que lhe lembrem afectos/tributos por anos de dedicação honesta. Ninguém reteve 'quentinhos' apaziguadores da consciência pelas ajudas prestadas. Tomaram, não fossem precisas!

 

Perdoada seja a lamechice. Partidas da emotividade deixam-me indefesa.
 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

When I was seventeen
It was a very good year
It was a very good year
for small town girls
And soft summer nights
We'd hide from the lights
On the village green
When I was seventeen

 

When I was twenty-one
It was a very good year
It was a very good year for city girls
Who lived up the stair
And it came undone
When I was twenty-one

 

When I was thirty-five
It was a very good year
It was a very good year for
blue-blooded girls
Of independent means
We'd ride in limousines
And their chauffeurs would drive
When I was thirty-five

 

But now the days grow short
I'm in the autumn of my years
And I think of my life as vintage wine
From fine old kegs
From the brim to the dregs
And it poured sweet and clear
It was a very good year

 

publicado por Maria Brojo às 06:08
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14 comentários:
De jotaeme a 19 de Janeiro de 2010
Teresa, olá minha Amiga! Perdoo-te concerteza a tua "lamechice"! Dessas tenho-o-as eu também quando me apetecem! Sensibilidade desperta, sempre é o que é!! História com um fim feliz,(ou quase), desafio que todos teremos lá mais para a frente das nossas vidas!
Se não nos emocionam estas cumplicidades o que andamos cá a fazer!
Um bom dia!
De Maria Brojo a 19 de Janeiro de 2010
Jorge - nestas e noutras de semelhante teor lemo-nos tão bem!
De -pirata-vermelho- a 19 de Janeiro de 2010
Não é lamechice, é reparo; desde que não desfoque...
por trás do efeito D.Lourdes está toda uma cultura de individualismo utilitarista e apressado, garantia do sistema de apropriação e acumulação de capital inútil.
(Não falta vírgula nenhuma, esteja descansada... é inútil o sistema e o capital acumulado.)
De Maria Brojo a 19 de Janeiro de 2010
Pirata-Vermelho - entre nós, é tão original concordarmos!
De zeka a 19 de Janeiro de 2010
Ta ti tam bém a fazer contas: when I was 23... ;-)

http://www.youtube.com/watch?v=mJ8kMbMpQbo&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=fp1-qiohCpE&feature=related

PS1- Há ali um '[Find more Lyrics on' in truso ;-)
PS2- Gostei menos da in trusão do marido :-( não enri quece a crónica :-( não há mulheres más? É melhor pensar que não: são as nossas... mães, avós, irmãs ;-)
De zeka a 19 de Janeiro de 2010
Min Dinho des anuvi ando...

http://www.bing.com/ (em 19/1)
De Maria Brojo a 19 de Janeiro de 2010
Zeka - o seu mindinho anda superlativo! Bravo!
De zeka a 19 de Janeiro de 2010
Min Dinho tomou partido (a Freudi ano)

http://www.youtube.com/watch?v=--p1aROkc5U&NR=1
De Maria Brojo a 19 de Janeiro de 2010
Zeka - o seu PS2 é natural porque anotado no masculino. Freudiano. Exemplar.

Discordando, embora do Sigmund, lembra-me aquela outra popular: "todas as mulheres são putas, excepto a nossa mãe" - máxima com género, claro! O seu.

Alguma vez ouviu mulher dizer que os homens são chulos excepto o pai?




De zeka a 19 de Janeiro de 2010
Teresa C. - Não o tenho por natural. É sentido (de observa dor). Foi um reparo final... porque se fez notar.
Tente avaliar a 'lamechice' (sua classificação) sem essa denúncia... parece-lhe menos emotiva?
Nesta (sua) 'guerra' dos 'sexos' ganham elas: 2-0.
Não, nunca ouvi. As Mulheres que eu ouço... não falam (nem pensam?) assim.

http://www.youtube.com/watch?v=-CsA1CcA4Z8
De Maria Brojo a 19 de Janeiro de 2010
Zeka - qual guerra de sexos se me dou tão bem com os (pres)supostos inimigos!

Com ironia e boa disposição apetece retorquir:
_ "Obrigadinha, «tá»?!...

Elogio não foi pela certa, e maldizer não é assim... :)

O "Cucurrucucu" está divino!
De Maria Brojo a 19 de Janeiro de 2010
Zeka - ao referir elogio/maldizer, refiro-me à sua frase:
_ "As Mulheres que eu ouço... não falam (nem pensam?) assim!"
De zeka a 19 de Janeiro de 2010
Teresa C. - E se não acrescentasse esta defesa? Continuava (de pé? aga chado?) o velado ataque «masculino. Freudiano. Exemplar.» «máxima com género, claro! O seu».
And ando de OK p'ra KO, levei um directo no estô mago e fui ao ta pete... levantei-me... Min Dinho levou-me à Madeira ;-)

Será Chuva... será Gente...?
http://gcestreito.wordpress.com/2009/08/20/sera-chuva-sera-gente/

Iron ia e boa dis posição... por que não?
De Maria Brojo a 19 de Janeiro de 2010
Zeka - "simplesmente espectacular". Não fique KO, mas OK como diz. É sempre o melhor.

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