Nesta sociedade que privilegia o conhecimento e contrai o Viver, Bolonha impôs-se. Objectivos primórdios: aumento da competitividade, da mobilidade e empregabilidade dos diplomados pelo ensino superior no espaço europeu.
Realidade do sistema: - graus académicos facilmente legíveis e comparáveis; - na essência,composto por dois ciclos - o primeiro, que em Portugal conduz ao grau de licenciado com duração compreendida entre seis e oito semestres, e o segundo traduzido no grau de mestre, com uma duração compreendida entre três e quatro semestres. - generaliza créditos académicos (ECTS), transferíveis, acumuláveis, independentes da Instituição de Ensino frequentada e do país. Na aparência, a bondade do sistema parece irrefutável.
Os mestrados são negócio lucrativo. As universidades fazem deles receitas extraordinárias - pagos, superlativamente, à cabeça, ou em dolorosas prestações. 14400 euros pelo grau é facto não raro. Os licenciados saem como pães dos fornos. No ano passado, dez mil a mais do que em 2008.
Se a licenciatura de cinco anos quase equivalia, socialmente, à quarta classe de décadas atrasadas no tempo, a «zipada» em três é análoga à segunda onde eram juntadas letras, mas não fazia coro a tabuada. Raciocínio falacioso, reconheço. Mais do que ensinamentos, a universidade deve fornecer competências. Adiadas do básico para o secundário e deste para a faculdade. Bolonha adia para o mestrado. O doutoramento, pelas bolsas remuneradas, virou emprego que difere a entrada no mercado laboral (in)existente.
Mais que sociedade do conhecimento, tempo de Viver adiado para ‘São Talvez’.
António - foi metáfora, como sei ter entendido, a tirada da 'segunda e quarta classe'.
Nada tendo de saudosista, ouço e vejo, torcida, notícias que dão conta do progressivo degradar do ensino universitário. Taxas de insucesso elevadas. Prometidas reformas que as diminuam. Maior o susto! Vem aí o facilitismo? No básico e no secundário, deu no que deu: jovens adultos quase iletrados. Documento que redijam carece de revisões palavra a palavra, mesmo com o inefável auxílio dos correctores ortográficos e de semântica. Entender desenvoltamente um texto é coisa do outro mundo. Redigir um e-mail, segundo regras comuns, missão difícil inexistindo normativo à vista.
O «saber» procurar informação, criar, ágil raciocínio lógico, fazer análise crítica do lido e produzido são competências decisivas que os «ensinos» supostamente incrementam. A minha experiência? _ Nem por isso! Talvez sorte a menos na amostragem que me rodeia (curiosamente provinda de suposta elite).
Mas sim, é importante não atafulhar os neurónios com conhecimentos ociosos e programáticos se comparados com o benefício da autonomia e criativade desenvolvida no «brincar».
Zeka - sobre o primeiro tema proposto já perorei por aqui. O Bastonário está com a manta da razão. Voltarei ao assunto pelo merecimento e importância próprias.