Este lugar ameaça ser, já é?, lugar para meditações superficiais e requentadas sobre o corrido no país e no mundo pequeno que a Teresa C. abrange com ler/ouvir. O ver é diferente: na cidade, travessa e atravessada, regista detalhes grados e miúdos. Aparentes, estes, por ocultarem, mostrando, vidas trágicas ou (des)esperançadas de “gente como nós”.
Pelas duas horas após dia meado, deambula na Praça de Espanha. Ao longe e na vez primeira, figura esborratada; braço ao alto. Exibia objecto. No perto, idoso. Samarra coçada. Gola de raposa há muito desfeita em pó na terra. O braço levantado segurava, na mão, saco de plástico contendo meia dúzia de ‘línguas-da-sogra’. Não requeria esmola. Vender, barato, bem que a saudosos das praias d’antanho satisfizesse. Como ele. Origem minhota ou «terreola» do Litoral Norte, suposição. Rosto vincado. Postura digna. Conjecturas outras: transplantado da terra original para meio urbano por conta de filhos entregues ao ganha-pão; reforma pequena.
De novo, Praça de Espanha. Sete e quarenta de manhãs mal nascidas. Candeeiros escorrendo luzes no quase desfeito breu. Cinza negro, o carro. Pequeno. Velhice conservada. O relógio pode acertar-se pelo piscar á direita. Fim: estacionamento de terra batida atrás da Comuna. Um minuto de atraso e não se dará pela vida condutora. De onde virá? Acordada desde as seis? Ramerrame quotidiano serra de ilusões (al)quebradas? Entusiasmo por trabalho novo e pontualidade como traço gravado na matriz/personalidade?
A Praça de Espanha, tantos sítios mais!, mostra realidades mais ricas que as sustentadas por telas e pincéis. Redutora: o Ernâni Oliveira retrata-as como ninguém.
Atentar no folhetim Crespo, isso sim, é falta de assunto. Por hoje, evitei a tentação.
Não são (só) os pincéis e as telas que registam as riquezas (visuais) que cada um de nós observa, a cada momento. A máquina fotográfica (também) faz maravilhas, nas mãos do artista. E pode até mostrar beleza que à maioria escapa.
O vendedor de 'línguas-de-sogra' está ali, em meio urbano, transplantado da terriola por supostas razões. E quem o observa? Transplantado também, por razões outras? De onde virá (se à direita vira) a vida condutora em manhã mal nascida? Tanto faz. Pouco importa, serra ilusões.
Atenta ao Crespo? Nim.Tentação pode ser falta de assunto. A maior parte das vezes! Dos mais velhos, a preguiça (o cio sidade) é mãe de todos os vícios. Lei. Qual? Da vida? Que faz ela ali? Escapou...
Zeka - mencionou importância que gosto: fotografia. Nunca fui ás e possuo conhecimentos rudimentares. Mas é vício. Fotografo o que posso. Arquivo. Olho e retomo lugares e pessoas e momentos.
Talvez por me sentir mais à vontade na pintura a tenha escolhido para tema e lema dos textos. Depois, fotografo com o olhar sem auxílio de máquina outra que não a do globo ocular. Neste particular, julgo-me mais capaz. Digo eu por me satisfazer o instante e a especulação. Decorrerá do trabalho em Ciência que se apresta a formular hipóteses? Não sei.
a) lugar de encontro, sim, respeitando bio-ritmos, humores, temas, bordões, o je ne sais quoi feminino de quem recebe em festa, ilustrações, música e links a enfeitar palavras já de si escritas a poder de charme e a promessa de(sse) livro... e frequentemente correspondidas por assíduos visitantes e outros que merecia a pena que aparecessem mais, quantas vezes espraiando-se diálogos, escaramuças, tira-teimas, ideias soltas ou verdadeiras teses estruturadas num que outro parágrafo, se não dois ou mesmo ... três !
b) vai daí um dia tiram-nos a Pausa de Espanha a poder de homotética viadutização (ou tunelização santanal, é facilitar a vereação e...) de tão desaproveitada Praça onde só raramente pastam vaquinhas alentejanas sob pavilhão açoriano, e então tiram muito que é o pouco que lá há, caras conhecidas meia dúzia, os da Cais, os dos jornais que já foram mais dados, o do pé a descoberto, o negro malabirista entre sinais, os romenos arredios ou intermitentes, ora os do pára-brisas arranhado a esfregão da loiça infecto de ameaças, ora uma esquadra de romenas perfiladas de bébé ao colo em cada cruzamento, ora a venderem Bordas d'Água, ora pensos rápidos, ora papelinhos atrelados a boneco sebento e vai-se a ver estava escrito tenho fome dê-me dinheiro e vá de proceder a despachadas recolhas no preciso momento em que muda o semáforo, mais as pombas e agora cada vez mais gaivotas e feirantes e seus clientes matinais em bares de contentores numerados, romarias à Oncologia e arrepia-se ao passar no sítio exacto onde o verdadeiro artista português viola a fila de pacientes condutores meio entorpecidos da manhã sem ponta prolongada por toda a hora do santo dia e uns viram nos semáforos se estão no primeiro ou último lugar da fila enganada, uns atravessas que arriscam a vida para quê? para recuperar minutos atrasados que o próximo metro poderá devolver se as buzinas forem só de raiva pelo inesperado e forçado recurso do travão e por muito que se queira dali não se tira uma canção, não é (ai) Mouraria nem rua do Cá-á-rmo ou Chiado acima acelerava à ida e à volta do trabalho e claro que o das línguas de sogra não é bem línguas de sogra são uns abolachados como as baunilhas dos gelados mas em cilindro em vez de cone e por vezes compra-se um saquinho ou dois daquilo a contentar o sujeito, nem tanto o vendedor que arrecada tão magras moedas como a sua tremelgante figura mas antes o sujeito que tenta aliviar o mal estar de quem está refastelado em bela viatura e se dirige à família em preparos de refeição e egrégora a que o solitário e esforçado baunilheiro não pertence e uma vida inteira depois ali está no meio da via, no meio da via... quase transparente !!
c) coreto: a magia e a memória e o namoro e a música e a poesia e a alegria e o mistério e a surpresa de um beijo inesperado de tão secretamente esperado, retribuído e, porque não?, recordado em todos os coretos, lugares de reencontro, reformulando bio-ritmos, humores e amores !!!
Inspira ção acres cida, not or ia mente no do meio, onde o Min Dinho ficou meio a tar anta do... lá bem no fundo http://www.youtube.com/watch?v=4SSkNLn0DlI
Nada (de Crespo) a comentar :-( http://www.youtube.com/watch?v=fcoBfuQmAWU
vamos então ao episódio do Mário Crespo, moderadamente:
- com o tempo decorrido e declarações produzidas, digamos que a comoção já passou
[e mesmo as virgens ofendidas que o afirmam grande profissional não deixaram caso;
[ou seja, o episódio já passou e nem um rato pariu...
- é evidente que a história, além de não comprovada (mas quem de boa fé esperaria tal de Mário Crespo?) está muito mal contada:
- ao bife, Sócrates palitava ruidosamente os dentes;
- e saíam-lhe perdigotos que mais pareciam mísseis contra esse potentado (um novo couraçado Potenkin, este Mário Crespo, também acham?) do jornalismo nacional;
[que, além de escritor de excelentes crónicas da banha da cobra sem recurso a um único facto comprovado;
[responde pelos entrevistados e termina entrevistas a dizer ... o que acha!
- vai daí, as "fontes fidedignas" falharam rotundamente a caracterização Primeiral
[Sócrates, não o grego, mas o beirão, haveria de tirar um vernáculo que chegaria por certo ao Tribunal de Aveiro, ao Supremo e mesmo ao Constitucional;
[aliás, menos que isso nem deveria ser aceite como output de um lauto almoço de amigalhaços da pandilha do Governo;
- há também a coincidência de um livro no prelo com as belas crónicas que já toda a gente leu e releu e releu que infelizmente não param de circular pelo correio electrónico das correntes acríticas e dos reenvios acéfalos
[ah... esquecia-me do Mário Crespo a tentar misturar-se com o JMFernandes, ex-director do Público, assunto que nada tem a ver a não ser também uma obsessão pela participação activa em iniciativas do PSD,
[ou com a (Mário Crespo dixit: boa noite, eu também quero ser a) Manuela Moura Guedes, ex-deputada do CDS, que tem razões para mover guerras sem quartel e sem pudor contra José Sócrates e não se comove por não fazer nada que se pareça com jornalismo...
bem, digamos que já dei qualquer coisinha para este peditório, mas compreende-se o desprezo a que tem sido votado o sujeito...