Terça-feira, 9 de Fevereiro de 2010

«PIRÂMIDE» - ACESSO RESTRITO


Ari Roussimoff


Nuno Guerreiro Josué:
_ “Alguém me consegue explicar o furor "anti-maçónico" obscurantista que agora se reacende na vida portuguesa? Regredimos 100 anos, foi?”
_ Eu, que evito o conceito e, contraditoriamente sustento a palavra no SPNI, culparia a inveja de negro vestida - falamos de maçonaria -, horda de «pré-conceitos» e suspeição abrangente, todos piores do que a peste. Afinal, os ratos já não precisam de cabos gordos para do cais ascenderem aos navios e, a partir deles, chegarem a todo o mundo. Idos (presentes?) despudorados não ajudaram. Todavia, o 'Grande Arquitecto' continua fazendo obra.

 

O desconhecido fascina. Interpela. É comum: aura de mistério propicia insolvência das questões; por cá, vista a abertura nos Estados Unidos. Mesmo nesta (des)terra, são menos que nozes, as vozes testemunhas do presenciado em conferências, visitas e/ou sessões abertas. Hospitalidade e simpatia acolhem. Elevação nos gestos simples. Visível o indizível – partilha tolerante de espíritos. Credos, partidos ou estatutos sociais ficam à porta.

 

Quem busca nas livrarias ou na «rede» mais informações, consegue. Nem todas credíveis: preciso, como em tudo, filtro de poros diminutos. Abundam romances (factos?). Exemplos, ou não, de folclore puro:

 

- “em Setembro de 1930, Aleister Crowley chega inesperadamente à cidade de Lisboa, com o pretexto de conhecer Fernando Pessoa, com quem se corresponde há algum tempo, em torno dos interesses comuns em astrologia e esoterismo. É o poeta que o recebe no Cais da Rocha do Conde de Óbidos. Pouco mais se sabe, com segurança, sobre o que se passou entre eles. Crowley, conhecido por muitos como a Besta 666, é uma das figuras mais enigmáticas do seu tempo. Expulso de Itália por Mussolini, sobre ele recaem as acusações de culto ao demónio e práticas de magia negra. Dias depois da sua chegada a Lisboa, o mágico ocultista vai a Sintra jogar uma misteriosa partida de xadrez e desaparece nos penhascos da Boca do Inferno, deixando atrás de si uma críptica nota de suicídio. A imprensa agita-se com o seu desaparecimento e as informações contraditórias que surgem a propósito. Cresce a especulação em torno do envolvimento de Pessoa na suposta encenação macabra.”

 

- conto iniciático – “Branca de Neve”
"Uma vez, no auge do inverno, quando flocos de neve caem como plumas das nuvens, uma rainha estava sentada à janela de seu palácio, costurando as camisas de seu marido. Nisto, levantou os olhos, espetou um dedo e caíram gotas de sangue na neve. E vendo o vermelho tão bonito sobre o branco, a rainha pensou:
_ Queria ter uma filha tão alva quanto a neve, tão vermelha como este sangue e tão negra como o ébano desta janela. Pouco tempo depois nasce a filha, branca como a neve, vermelha como o sangue e cabelos negros como ébano. Por isso lhe puseram o nome de Branca de Neve. Mas, quando ela nasceu, a mãe morreu
.

 

A personagem central, Branca de Neve, sintetiza as três cores que simbolizam, no Hermetismo, outras tantas etapas espirituais: o negro, o branco e o vermelho. Correspondem, respectivamente, ao «nigredo», «albedo» e «rubedo» alquímico. Os sete anões, que trabalham numa mina buscando ouro, aludem a idêntico simbolismo. Meta alquimista: transformar em ouro metais impuros.

 

Não é ocasional a divisão da história em três partes. Na primeira, Branca de Neve vive no castelo regido pela rainha má desde o nascimento até fugir do caçador em plena floresta; na segunda, coabita com os sete anões até ao episódio da maçã envenenada; na terceira, reside com o príncipe num "felizes para sempre". Aplicação simbólica do número três aos graus do conhecimento.

 

(…) A rainha madrasta descobre que Branca de Neve é a mais bela quando esta faz sete anos. Obcecada com a comparação estética, apenas atenta na própria inteligência e na realidade sensorial. Demonstra incapacidade na percepção da beleza interior. A unidade do belo, do bem e da verdade, proclamada pelas diversas tradições religiosas, inexiste na rainha má.

 

(…) Imposto ao caçador servir o coração da Branca de Neve para que a majestade o coma. No simbolismo astrológico, o coração é representado pelo Sol; no alquímico, pelo ouro. Morada do espírito onde habita o divino."

 

Tal como a traiçoeira rainha/madrasta foi ludibriada ao mastigar entranha que não da princesa, tomar a parte pelo todo, ou o inverso, é logro.*

 

* Versão livre do colhido neste lugar.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

 

publicado por Maria Brojo às 06:19
link | Veneno ou Açúcar? | favorito
8 comentários:
De António a 9 de Fevereiro de 2010
veneno - o todo pela parte ou a parte pelo todo tanto podem enganar como significar e ajudar a comparar, classificar, organizar e compreender melhor a realidade ou alguma perspectiva da realidade; no caso em apreço o aviso é bem vindo e fica feito, por vezes tenta-se confundir com supostos mistérios aquilo que tem interesse meramente particular ou mesmo interesse nenhum, embora hoje em dia o conceito de mistério ou segredo tenha forçosamente que ser relativizado, tudo se sabe ou acaba por saber, e isso sabe-se, mesmo quem deliberadamente procura esconder algo bem sabe que há uma completa impossibilidade de controlo absoluto, o que também não impede a boa regra de tratar discretamente e segundo as conveniências aquilo que não é de interesse geral ou que não tem que ser ostensivamente exibido em público

açúcar - o direito a um mínimo de reserva tem que ser no entanto preservado, hoje como em 1935, quando Fernando Pessoa escreveu um magnífico libelo em defesa das sociedades secretas enquanto manifestação de uma esfera preciosa de liberdade individual e de associação, de toda a actualidade, aliás, quando vemos que tantos se apressam a bufar o que ouvem na mesa do lado mas também quando se perdeu quase completamente o pudor em conversas e actos em deliberado descuido ou mesmo a encher ouvidos alheios em transportes ou lugares públicos com todo o género de assunto pessoal ou mesmo íntimo e indiscreto

sendo assim - desde que a humanidade existe se atribui especial valor ao simbolismo, talvez fundamental na diferenciação e evolução da espécie: é o valor atribuído a símbolos que nos permite o deslumbramento da leitura e da escrita mesmo para quem não saiba ler nem escrever mas também o acesso a outras aprendizagens e formas de ver, de reflectir ou de estudar, a diferentes e fascinantes formas de arte e ao nosso crescimento individual e em comunidade, como na construção e tradição de mitos, significados e emblemas, de enriquecimento e fortalecimento colectivo, sucedendo-se às gerações no desfiar dos tempos e ampliando a nossa capacidade de reconhecimento, interpretação e interpelação do mundo - e há lá melhor?

;_)))



De -pirata-vermelho- a 9 de Fevereiro de 2010
Alguem me consegue explicar porque é que um ventual furor anti-maçónico seria obscurantista?


(que se me desculpe a ousadia e a negligência, no caso de a explicação aparecer depois da primeira linha de texto)
De Maria Brojo a 12 de Fevereiro de 2010
Pirata-Vermelho - o texto, após a pergunta do mui querido Nuno Guerreiro, pretende ir além de uma pretensa resposta.

Objectivo vero:
_ Reflectir sobre formas outras de pensar os feitos humanos e tudo que os ultrapassa.
De Maria Brojo a 12 de Fevereiro de 2010
António - começando pelo «veneno»:
_ "O todo pela parte ou a parte pelo todo" (a)normalmente frutifica rótulos apressados. Neste mundo de «mistérios com cauda de fora» - as «gordas» jornalísticas dos últimos dias são prova - foi-se a magia dos Mistérios merecedores do nome.

Açúcar:
_ O direito à reserva foi, é, será prudente, desejando o indivíduo preservar pudor no espírito das respectivas concepções.

(Re)Aprender a «ler» lidos e conhecidos proporciona, anos acumulados, novas aquisições são indispensáveis ao crescer sem fim à vista. Horizonte curto engaiola o homem nos seus paradoxos como pescada com o extremo na boca.

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