Autor que não foi possível identificar
"Ela era como era, e olhava-se como em esgares de gazela cobiçada, ágil e breve. Por isso lhe telefonava (a ele) porque lhe sabiam bem as palavras macias com que a mimoseava, o carinho, o mimo, as propostas lúbricas num charme de graça. Malhas dos dias e os desabafos que iam caindo em cada toque de telemóvel. Porque ele (o outro, o oficial), sempre de falo de em riste, era apenas uma sucessão de orgasmos, de me gusta mucho, de jactos mornos em zonas laterais. Ciumento_ contava. Gosto de me sentir olhada, as coxas brilhando numa saia mini, os bicos furando a renda da blusa, olhos babados de comensais, suspendendo o garfo.
O não amigo, o que recebia as chamadas, falava-lhe com um ar de anjo travestido em Mefistófoles. _ Mereces mais, sentes-te desconfortável na relação, pareces frustrada. Ela ripostava com as vezes que o outro riscava a parede por cada vez que (se) vinha, como nas vindimas se contavam os cestos. Há um lado puta em ti que ele não aprecia. É inseguro, bronco e toda a parafernália de insultos com que os preteridos enfeitam os eleitos. Ela aquiescia, e dizia-lhe a roupa que trazia vestida, a cor das cuecas, as mamas entesando por sabê-lo (ao do telefone) endurecer.
Quanto mais ciumento mais corno_ picava-a ele, sugerindo-lhe, como se fosse antibiótico, idas a sex shops, massagens e beijos na boca.
Depois seria fim de semana, e como acordado, ela repetiria gestos e gritos, humedecendo-se q.b. O telefone ausente como se não importasse.
Um pouco à guisa de crónica, pares que não casais trocariam número de telemóveis, olhariam de esguelha rabos de rapazes e coxas muito nuas de dançarinas em discotecas na moda ou muito pouco. Apenas mudava o nome dos perfumes e marca no elástico das cuecas.
Na segunda-feira, ele (o do telemóvel) falar-lhe-ia de bares giríssimos (onde não estivera) e onde garantia gostar de a ter levado num vestido muito curto. Do outro lado ela reafirmava orgasmos domésticos, palpava as pernas, sentia ardor.
_ Qualquer dia, fodo-o, pensou baixinho."
Nota: para o SPNI, crónica de Fernando York.
CAFÉ DA MANHÃ
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