Andrew Brusso
"De um modo assustadoramente banal, eles andam por aí. São os paineleiros, versão áudio e vídeo de uma certa sheet press, tablóide ou pink. Mulherezinhas em T2 horríveis, em ruas horríveis de bairros horríveis deslumbram-se com uma escrita de vómito. Ditos famosos mostram o cão, a sanita e a última peça de um amor agora é sério. Depois temos a versão culta, os paineleiros. Um bocadinho menos menos. Odeiam gravatas mas não prescindem de casaco. Riem-se muito, são amigos, e lêem jornais e livros em estrangeiro. Se são de direita dizem-se de esquerda e vice-versa enquanto anunciam desgraças eminentes. Não se sabe onde moram nem do que vivem, quando um vago ar de jornalista ou politólogo tudo cobre. E há ainda os crentes, os devotos do senhor presidente do concelho. Que defendem, novos cruzados de todas as virtudes. Esperam, talvez no céu dos ossos, que um dia sejam mais que presidentes de junta ou mais que subalternos VIP’s na sua pequena hora semanal de vaidade e fama.
A vida corre triste e essa gente é nada. Babujam o que já se sabe numa lama sórdida de croquete e refresco. Às vezes são advogados e maçons sem loja, redigem crónicas de viagens como se maçada fosse, atiram-se aos funcionários públicos como Jardim aos cubanos. Nos quiosques pululam notícias com foto da namorada da mãe que tinha um tio que disse ao primo que beijava a avó que matou o neto. E famosos de uma semana num concurso são autopsiados até ao limite do limite, no estertor da sua rua anónima.
A vida passa mal, e o lixo inunda as ruas e as paredes, quando latas de spray garatujam nomes e promessas de afecto."
Nota: para o SPNI, crónica de Fernando York.
CAFÉ DA MANHÃ
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