Sonia Roji e Greg Horn
Procuram o sol nos cantos onde o vento descansa. Ajuntam-se, aos poucos, quando a manhã arrastou mais de metade. Idosos. Passada lenta. Bengala um por outro. Com excesso de peso quase todos _ caminho andado para corações e artérias atrofiadas. ‘Bom dia!’ à chegada. Palavras escassas depois. Olham, sem ver, o visto diário. Vislumbre de ânimo quando mais um se acomoda nos bancos comunitários.
Nas sombras frias que Abril não aqueceu, os mais novos. Desocupados dia sim, dia sim. Falta de trabalho ou de vontade em utilizar com proveito social as horas que fogem perdidas em inutilidade. Cigarro numa mão, cerveja na outra. Magros. Olham e/ou interpelam sem talento as mulheres que passam. No resto, tão velhos como os aquecidos pelo sol. Em frente, apartamentos com boa cara são coberta que os aconchega chegado o tempo da janta. Da noite.
Atravessam sol e sombras mulheres elegantes. Passeiam cães ou caminham em passo rápido até desembocarem nos parques onde a saúde e as formas exemplares do corpo são promessa. Equipadas com o melhor do sportswear. Saem dos condomínios fechados. Ignoram velhos e novos próximos pela vizinhança, distantes pelo estatuto da morada e da profissão. A eles e elas acontece virem a casa num pulo. Entram e saem temerosos. Carrões deixados à porta por tempo curto, não os saqueiem ou vandalizem os novos postados nas sombras, camisetas justas, calças descidas, orelhas furadas. Pacíficos no seu bairro _ se desmandos fazem escolhem lonjuras convenientes. Tristes, todos. Uns porque as dores chegaram e adivinham fim próximo, outros pela ociosidade e boa/má vida, os «ricos» pela mediania encapotada, pelos recursos insuficientes para satisfação de prazeres grandiosos, cópias dos abastados de facto. Semelhanças (in)visíveis.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros