Dita do Adamastor. A auto-estrada do Tejo em frente. Veleiros e cacilheiros. Embarcações miúdas. Umas e outras deslizando na serenidade sem faixas e loendros empoeirados separando alcatrão.
Na hora do almoço, míngua de apetite que tosta e água satisfaziam, fosse de sol ou neblina a luz. Desequilibrava os saltos na calçada oblíqua dos quarenta e cinco graus inclinados. Olhava os junkies, o vazio de rodados, a companhia do Adamastor reformado do afunda caravelas e tormenta de marinheiros, os verdes selvagens no jardim esquecido que o Tejo marginava do alto. Espaço que anos e anos tornara adulto, tão diferente dos designs arquitectados em ateliês por visionários de uma Lisboa em maquetas, obediente a qualquer forma de modernidade, menos invento do que cópia.
Procurava a esplanada na Senhora do Monte ou Santa Catarina do Monte Sinai, assim baptizada por um frei qualquer apostado em fazer das físicas elevações de Lisboa imitações do Aventino, Esquilino porque não?
No Antigo Pico de Belveder, nome de palácio, de casta nobre com jacarandás/debruns fronteiros ao rio, engolia o prazer da esplanada como tranquilizante comprimido numa tablete de alumínio.
António, calçada ultramarina? Nem como liberdade poética ou seriam calçadas que os portugueses calcetaram além-mar? A calçada é mediterrânica e, em Portugal, romana
humildemente me penitencio pelo excesso metafórico...
referia-me ao "rio mais bonito da minha aldeia", auto-estrada azul de que fala o belíssimo post - com que o escrito em verso tentou dialogar - onde em Santa Catarina desaguam, salvo seja, todas as calçadas e escadinhas!!
e que oferece a Lisboa o Mundo, além-horizonte a um alfacinha, de gema em sendo o caso, ou a vista aos olhos de um sonho português!!!
mas não se estranhe que a calçada não seja calçada, que não seja nunca a mesma e feita de água em vez de pedra muito antes dos romanos pensarem que nos conseguiam governar e mesmo de Ulisses, quem sabe?, nos visitar
embora óbvia e forçosamente sem veleidades comparativas, invoco um terceiro António, o do "Poema dos textos":
[...] «Onde se lê "cordeiro", não é cordeiro; onde se lê "pastor", não é pastor; e o grão que foi cair na berma do caminho, pisado pelos pés e comido p'las aves, não era grão, nem existiam aves, nem os pés o pisaram, nem sequer o caminho existia.
O mistério persiste, emoliente e arteiro, p'ra que vendo não vejam, e ouvindo não entendam.
Que significará o pão, o vinho, o peixe, o escorpião, a cinza?
Que significará "meus amados irmãos"?
Que quererá dizer "amai-vos uns aos outros", a cinza?»
Veneno C. - esperava comentário semelhante. Não resisti a publicar um excerto dum «coiso» que ando a escrever e constatar a reacção à diferença de registo com a do blog. Merci bien.