Gordon France
Ai a nuvem de cinzas que não cessa de se comportar como polvo aéreo desdobrando tentáculos para onde os ventos os levem! Se a nossa desequilibrada economia já fora roída na primeira leva dos espirros do vulcão islandês, faltava-nos agora a distracção do Anticiclone dos Açores! Não é aconchego saber os vizinhos espanhóis em caos semelhante. Ao contrário, piora: como principais clientes da produção nacional, dependemos deles para o pão existir sobre as nossas mesas e nas bocas. Ora, a Ibéria tem andado à deriva _ mais parece barcaça de madeira onde faltam pregos que as tábuas mantenham unidas. Pronta a ir ao fundo, não se precatem e poupem e preguem, com afinco, a madeira os homens do leme.
Porque chove e as cinzas não têm culpa do azul escondido, melhor é aliviar tristezas legitimando ocasional alienação. E se é empolgante a que lá mais para a tarde nos fará esquecer, além das tristezas, as dívidas! Amarrados aos ecrãs, às telefonias, roendo unhas nos estádios, a milhões de portugueses só importa saber qual o clube campeão e quem vence no Jamor. Em vez da trindade “futebol, família e Fátima”, uma outra: “futebol, fora-o-árbitro, filho-da-outra”. Existe melhor anestesia contra adversidades que descomprimir através dum vulcão de lavas primárias?
Vou-me daqui procurar o cachecol. Pô-lo a jeito. Havendo desgosto, volta a restar encafuado na gaveta dos disparates. Até à próxima.
Nota: semana excessiva impediu-me de responder aos comentários, lidos «todinhos», como cumpre e devia. Peço desculpa.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros