Babis Kiliaris
Há projecto da Câmara Municipal de Lisboa para inovar o largo que medeia a subida do Rato pela Rua da Escola Politécnica, de seu nome Jardim do Príncipe Real. Bem-vindo se respeitasse a nobreza da rua onde desafiam modernidade mal «enjorcada» o prédio Gonzaga Ribeiro, o Palacete Castilho, o Palácio Rebelo de Andrade Seia, o Palácio Cruz Alagoa. Em frente do Real Colégio dos Nobres, depois Escola Politécnica, por detrás e ao lado o Jardim Botânico, a Casa das 11 Portas. Da Real Fábrica das Sedas, vestígios que alojariam o café “Flor do Rato”.
Numa das colinas mais nobres, num jardim histórico que abre para moradores e quem passa a serenidade verde, abater quase meia centena de árvores a favor dum parque de estacionamento, é crime. Lembra o assassinato da Avenida dos Aliados no Porto:
_ Onde estavas com a cabeça e o engenho Siza?
No Jardim do Príncipe Real, não existe coreto; substitui-o roda imensa nascida de troncos enlaçados. A propósito, destaco reflexão do António sobre a Praça de Espanha inserida no aqui publicado a 4 de Fevereiro deste ano. Merece ser lida, relida e treslida. Fascina-me este texto cujo final igualmente deslumbra.
(…)
“b) vai daí um dia tiram-nos a Pausa de Espanha a poder de homotética viadutização (ou tunelização santanal, é facilitar a vereação e...) de tão desaproveitada Praça onde só raramente pastam vaquinhas alentejanas sob pavilhão açoriano, e então tiram muito que é o pouco que lá há, caras conhecidas meia dúzia, os da Cais, os dos jornais que já foram mais dados, o do pé a descoberto, o negro malabirista entre sinais, os romenos arredios ou intermitentes, ora os do pára-brisas arranhado a esfregão da loiça infecto de ameaças, ora uma esquadra de romenas perfiladas de bébé ao colo em cada cruzamento, ora a venderem Bordas d'Água, ora pensos rápidos, ora papelinhos atrelados a boneco sebento e vai-se a ver estava escrito tenho fome dê-me dinheiro e vá de proceder a despachadas recolhas no preciso momento em que muda o semáforo, mais as pombas e agora cada vez mais gaivotas e feirantes e seus clientes matinais em bares de contentores numerados, romarias à Oncologia e arrepia-se ao passar no sítio exacto onde o verdadeiro artista português viola a fila de pacientes condutores meio entorpecidos da manhã sem ponta prolongada por toda a hora do santo dia e uns viram nos semáforos se estão no primeiro ou último lugar da fila enganada, uns atravessas que arriscam a vida para quê? para recuperar minutos atrasados que o próximo metro poderá devolver se as buzinas forem só de raiva pelo inesperado e forçado recurso do travão e por muito que se queira dali não se tira uma canção, não é (ai) Mouraria nem rua do Cá-á-rmo ou Chiado acima acelerava à ida e à volta do trabalho e claro que o das línguas de sogra não é bem línguas de sogra são uns abolachados como as baunilhas dos gelados mas em cilindro em vez de cone e por vezes compra-se um saquinho ou dois daquilo a contentar o sujeito, nem tanto o vendedor que arrecada tão magras moedas como a sua tremelgante figura mas antes o sujeito que tenta aliviar o mal estar de quem está refastelado em bela viatura e se dirige à família em preparos de refeição e egrégora a que o solitário e esforçado baunilheiro não pertence e uma vida inteira depois ali está no meio da via, no meio da via... quase transparente!
c) coreto: a magia e a memória e o namoro e a música e a poesia e a alegria e o mistério e a surpresa de um beijo inesperado de tão secretamente esperado, retribuído e, porque não?, recordado em todos os coretos, lugares de reencontro, reformulando bio-ritmos, humores e amores!”
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros