Ontem, o primeiro casamento entre duas mulheres. Na memória, o fabuloso Querelle. Jean Genet da ficção existencialista e homoerótica foi leitmotif. O porto de Brest, recriado artificial e provocadoramente erecto nas torres em forma de pénis, testemunha relações de paixão/ódio entre o marinheiro, Querelle, e os homens e mulheres da cidade. Desejo na procura, prazer na margem/crime. Volúpia transtornada.
Quem mergulha em Fassbinder espera e tem a lateralidade das vidas. Sufocantes. Aprisionadoras. Feias. Por tudo, arrebatadoramente belas. Vívidas. Encontra desgostos com recheio de amor insubmisso, no Querelle pintados com amarelos e laranjas obssessivos. Ácidos como a autodestruição que retratam. Razão de sofrimento feita.Tais são muitos dias na fita da vida. Num qualquer recente, luzido pela maravilha no sorriso da idosa linda empurrada na cadeira de rodas. Surpreendeu-a, no fim de dia ainda soalheiro, o beijo despudorado dum casal. Quem a acompanhava ignorou. Ela leu brilho onde Genet e Fassbinder e a cantora no sórdido cabaré, Moreau, escreveriam tragédia ou desespero.
e uma luz indicia que de olhos fechados se vê, um rumor explicita que o silêncio diz e uma humidade desponta onde oceanos apaziguam rios...
sirva-se à temperatura e tempere-se a pressão, volvem pétalas onde se sente a mão, onde o perfume lembra a incondição, onde a memória se faz lábio, a vivência é boca e o desejo sufoca a sofreguidão
galáxias em forma de coração e alvíssaras a explicação, a um canto a obsessão, a vida tem o condão de prover a imensidão, a intensidade e a verdadeira alegria, em despudorados beijos de ocasião, de catálogo, de recordação, os que trazemos perdidos à espera de uma canção, os que oferecemos à noite e ao alvor já lá não estão, os suspirados sem grito nem sopro ou respiração, os que nos dão de mansinho em mimos de arribação, os que perduram no corpo, nos poros e entranhas e em toda a ilusão, os que demoram a haver e juram não se perder, os que sofremos por querer e os que gozámos sem ter, os outros, os todos, os mais, os que nunca foram ais, os melhores que estão p'ra vir, os que não param de fugir, os que bebemos de um trago num postal por emitir, os que sabemos de cor por tanto não existir, os que demos de mãos dadas e os que roubámos no escuro, os que sabemos tão pouco até não nos afligir, os que inventamos de pronto para não chorar a rir, os que mordemos em panos, escondidos e envergonhados, os que um dia descobrimos se portanto apaixonados, os que p'ra sempre exaltamos quando neles nos casámos, os que se beijo, logo existo, os que dá-mos já que não resisto, os que depois bem verás, os que etecetera e tal, os que nunca saberás e os que descem as paredes, árvores, chaminés e nos recobrem de amor do toutiço até aos pés, os de choquinhos com tinta que denunciam a avó, os do gato shiu à pála da corda ao relógio, os que saíram do armário e que ainda lá ficaram, os à cinéfilo da primeira à última fila e à casinha do projector e mais uns quantos pelo corredor, outros tantos em redor e mais alguns dos sem pudor, os ... e mais quais' ah... os mais, os a mais e os tais, sim, despudorados, sim, sejam ;_)))
Dose Cabal - Demasiado denso para a capacidade osmótica da minha 'camioneta'. Diluído daria para as 3 vidas (passada, presente, futura). Fartura que poderá ser ameaça de fome (convem guardar e racionar?). Retiro o meu 'bi tri óleo' (e o meu chapéu), porque afinal todos os dias morre um amor</> (http://www.youtube.com/watch?v=HYtd1ajA2yY)
Perdoa a emenda minha querida: nem amarelo nem laranja, cor de fogo sim, fonte de vida como diziam os primitivos gregos, mas que tudo consome, sobretudo a carne, não nos esqueçamos.